Quem me conhece sabe: o conformismo nunca me seduziu. Em tempos obscuros, onde o silêncio era moeda de troca pela segurança, minha voz teimava em ecoar, questionando o “sempre foi assim”. Enfrentei os anos de chumbo, não por bravura inconsequente, mas por uma necessidade visceral de compreender e agir, de ir além da aceitação passiva de uma realidade imposta. Acomodava-me, sim, à incômoda posição de quem se recusa a carregar o piano enquanto a base da pirâmide se esmaga sob o peso.
A leitura, para mim, sempre foi mais que um hobby; é um antídoto contra a estagnação intelectual. Devoro clássicos e contemporâneos, mas confesso minha inclinação pelos últimos. São eles que, a partir da análise do presente, nos fornecem as ferramentas para construir o futuro. Não me interessa o passado engessado em dogmas, mas sim a dinâmica do pensamento que nos impulsiona para frente. Observo a conjuntura, atento aos movimentos daqueles que, projetados pelos coletivos em campanhas majoritárias, constroem estruturas de poder que excluem e silenciam tudo o que não lhes reflete a própria imagem. Esses grupos, tão comuns na política, criam um espelho distorcido da realidade, anulando a diversidade e o debate em nome de uma suposta unidade.
Meu interesse reside nos pensadores que agem, não nos mercadores de teorias. Busco a sabedoria prática de filósofos e sociólogos contemporâneos, aqueles que se debruçam sobre as complexidades do nosso tempo, mas também nos políticos visionários, como Churchill, Merkel e Soares, que ousaram romper com o status quo. Suas ações, mais que suas palavras, inspiram e guiam.
Tive a sorte de cruzar meu caminho com homens e mulheres utópicos, com quem aprendi e ensinei, mantendo acesa a chama do sonho e da transformação. É para eles, principalmente, que escrevo. Compartilho minhas reflexões, fruto de uma vida dedicada à observação e à análise, ciente da responsabilidade que a palavra escrita carrega. Sei que o registro permanente expõe o autor a críticas, mas creio que a expressão livre e fundamentada é um ato de cidadania essencial. Escrevo sobre o que conheço, com base em fatos e provas, sem me render à tentação da especulação vazia.
Meu progressismo é reformista, porque acredito na mudança gradual, na construção de um futuro melhor a partir das bases do presente. Olho para trás sem arrependimentos, ciente de que contribuí para a transformação da sociedade. E é com a tranquilidade de quem se manteve fiel aos seus princípios que afirmo: há uma enorme diferença entre envelhecer e se tornar um político profissional e carreirista, esvaziado de propósito e desconectado da realidade. A leveza da pena, aliada à consciência do peso da carroça que outros carregam, é o que me move. E é isso que me permite seguir em frente, inconformista e esperançoso.
Padre Carlos