Política e Resenha

Às Raquels do Brasil: Um Tributo à Força e ao Talento Feminino ( Padre Carlos )

 

 

Hoje celebramos os 114 anos de Rachel de Queiroz, uma gigante da literatura brasileira que, em sua trajetória, rompeu barreiras, desafiou preconceitos e, com palavras tão cortantes quanto poéticas, deu voz ao sertão e à alma do povo nordestino. Primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, Rachel não apenas abriu portas para outras mulheres como consolidou um lugar para o Nordeste na literatura nacional, com a força de suas histórias e a vastidão de seu talento.

Rachel foi uma pioneira em todos os sentidos. Em 1930, com apenas 20 anos, publicou O Quinze, um romance que retrata de forma visceral a seca de 1915 no Ceará. O livro é um marco não apenas pela sua qualidade literária, mas pela coragem de abordar uma realidade crua e muitas vezes invisibilizada. Não é à toa que a obra permanece, até hoje, uma das mais lidas e estudadas da literatura brasileira. Com o mesmo vigor, ela nos deu Memorial de Maria Moura, um épico sobre resistência e força feminina, que reafirma seu compromisso com narrativas profundas e transformadoras.

Rachel também traduziu clássicos da literatura mundial, como o monumental Moby Dick, de Herman Melville, aproximando o leitor brasileiro de um dos maiores romances da língua inglesa. Sua tradução é, por si só, uma obra-prima, que equilibra fidelidade e criatividade, uma combinação que só uma escritora da sua envergadura poderia alcançar.

E como não falar do Prêmio Camões? A primeira mulher a recebê-lo, Rachel reafirmou que o talento não conhece gênero, apenas grandeza. Ainda assim, houve quem tentasse diminuir essa conquista, numa afronta não apenas a ela, mas a todos que valorizam a cultura e a literatura. Porém, como bem sabemos, os cães ladram, mas a caravana segue.

Rachelzona, como carinhosamente a chamamos, era mais que uma escritora: era uma cronista do humano. Sua escrita capta os pequenos gestos, as grandes dores e as belezas fugidias da vida. Cearense como o vento que varre o sertão e as jangadas que cruzam o mar, ela carregava consigo a alma de sua terra natal. Assim como o Dragão do Mar e os jangadeiros da liberdade, Rachel também navegou contra as marés da história, erguendo sua voz em um mundo que, muitas vezes, insistiu em silenciar as mulheres.

Hoje, em seu aniversário de 114 anos, somos convocados a ler Rachel, celebrá-la e lembrar que sua obra é uma jangada que atravessa os tempos. O sol rebrilha, as jangadas singram, e Rachel, eterna, continua a nos guiar pelas águas turbulentas da existência.

Feliz aniversário, Rachel de Queiroz. Seu legado é imortal.