Política e Resenha

 

*Crônica: Estrelas no Olhar*

Naquele tempo, eu tinha estrelas no olhar e o coração repleto de sonhos. Eu era um menino que acreditava na força dos heróis, que podia salvar princesas e conquistar reinos com apenas um sorriso. E você, com sua beleza etérea e seu jeito doce, era a minha princesa. Juntos, éramos invencíveis.

Lembro-me das longas tardes de verão, quando corríamos pelos campos, descalços e livres, como se o mundo fosse nosso. Eu me sentia forte, indestrutível. Nada poderia nos separar, pensava. Você sorria e eu me sentia o herói de todas as histórias, o cavaleiro que sempre chegava a tempo para resgatar sua dama.

Os anos passaram, e o menino que eu fui ficou no tempo. As estrelas no meu olhar foram se apagando, substituídas pelas responsabilidades e pelas realidades da vida adulta. O brilho da juventude deu lugar a uma maturidade que, embora rica em experiências, trouxe consigo uma certa saudade. Saudade daquele tempo em que tudo era possível, em que acreditar era suficiente.

Você continuou linda, mas o mundo ao nosso redor mudou. As estradas que pareciam tão certas se tornaram sinuosas, e os caminhos se dividiram. Aquele herói forte e destemido descobriu que não podia controlar o destino, que algumas batalhas são travadas internamente e que, às vezes, o mais difícil é aceitar que nem todos os contos de fadas têm um final feliz.

No entanto, as lembranças permanecem, como um filme antigo projetado em minha mente. Eu ainda posso sentir o vento no rosto, ouvir suas risadas ecoando no ar e ver a luz do sol refletindo nos seus cabelos. Ainda posso ser aquele menino, mesmo que apenas em memória, salvando sua princesa de perigos imaginários e acreditando que nada poderia nos separar.

E mesmo que o tempo tenha nos levado por caminhos diferentes, guardo com carinho cada momento que compartilhamos. Porque, de certa forma, aquele menino e sua princesa nunca realmente nos deixaram. Eles vivem em nossas lembranças, em cada sorriso que damos ao recordar, em cada suspiro de saudade.

Então, ao olhar para trás, vejo que, apesar das mudanças, as estrelas ainda brilham. Talvez não com a mesma intensidade juvenil, mas com uma luz serena, que ilumina as memórias de um tempo em que acreditávamos que o amor era suficiente para nos manter juntos para sempre. E talvez, de alguma forma, ainda seja.

Padre Carlos