Política e Resenha

ARTIGO – A Pena como Espada (Padre Carlos)

 

 

 

 

Sempre fui apaixonado pela arte de escrever. Escrever é muito mais que uma simples ação, é um exercício de revelação da alma, um portal através do qual transito entre o que é concreto e o que é abstrato, dando voz àquilo que muitas vezes permanece silenciado no peito de quem não tem espaço para expressar. Passo horas vagando pelas palavras, buscando nelas a metáfora perfeita que seja capaz de traduzir os sentimentos que me atravessam, ou então, a dor e as alegrias daqueles que, por vezes, são invisíveis para o mundo.

É curioso como a escrita nos leva a lugares inesperados. Começamos com uma ideia, uma frase, e de repente estamos imersos num universo de sentidos e possibilidades. Caminho sem rumo pelas páginas, em busca de sentido, como quem peregrina pelas estradas de um mundo desigual, onde cada história, cada palavra, é uma semente que lançamos ao vento, sem saber onde cairá ou como germinará.

Escrever, para mim, é também um ato de resistência. Ao transformar a pena na minha espada, enfrento os desafios de um mundo que muitas vezes se mostra indiferente às vozes que clamam por justiça, empatia e compreensão. Cada história que conto é uma luta travada com as sombras da indiferença, da injustiça, do esquecimento. A escrita tem esse poder transformador, de iluminar o que está oculto, de dar nome ao que se recusa a ser silenciado.

Em minhas andanças, conheci pessoas e histórias que moldaram a minha maneira de ver o mundo. São vidas que, como a minha, trilham o caminho incerto entre mágoas e sorrisos, entre encontros e encantos, desencontros e desencantos. Cada uma dessas experiências se torna uma parte de mim, uma peça fundamental na construção dos textos que escrevo. O poeta que tanto admiro já dizia: “Peregrino nas estradas de um mundo desigual”, e assim me vejo, um peregrino que atravessa as tempestades da vida com a palavra como seu escudo, e a memória como sua bússola.

A escrita me ensina, todos os dias, que não somos senhores absolutos das nossas histórias. Somos narradores e, ao mesmo tempo, personagens de uma trama maior, onde nossas ideias e sentimentos ecoam além de nós mesmos. Contar histórias é, portanto, um gesto de entrega, um ato de generosidade para com o outro, mas também uma forma de autoconhecimento, de busca por uma verdade que nem sempre é evidente.

Assim, sigo caminhando pelas trilhas do imaginário, carregando comigo as histórias de vidas que cruzei, as memórias de quem fui e os sonhos de quem ainda posso ser. Vou construindo, com a pena que se tornou minha espada, uma jornada de palavras, de afetos e de lutas. E é através dessa escrita que vou desbravando os mistérios do mundo, resistindo aos seus desencantos, e celebrando os encontros que dão sentido à minha existência.