Os anos 1960 marcaram um período de efervescência cultural em Vitória da Conquista. Enquanto o Brasil se transformava em múltiplas frentes, a cidade já despontava como um verdadeiro polo cultural, impulsionado por um meio que reinava soberano: o rádio. Sem a presença dominante da televisão, que era ainda um sonho distante, o rádio desempenhava o papel de principal veículo de entretenimento e informação, levando a magia da música e das palavras diretamente aos lares conquistenses. Nesse cenário, a Rádio Clube de Conquista destacou-se como uma força motriz, sendo a segunda emissora inaugurada no interior da Bahia, apenas precedida por Feira de Santana.
Entre os talentos que emergiram desse ambiente cultural estava Maria Helena Menezes, uma figura que se tornou quase mítica através do programa Carrossel de Alegria. Sua voz era comparada às maiores divas da música popular brasileira, como Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Dolores Duran. No entanto, Maria Helena representava algo mais que uma artista talentosa: ela era um símbolo do florescimento cultural de uma cidade que começava a se reconhecer como um centro de arte, mesmo à margem dos holofotes das grandes metrópoles.
A Rádio Clube, sob a batuta de comunicadores carismáticos como Jota Menezes, oferecia uma plataforma onde a cultura popular florescia com uma energia vibrante. O programa Carrossel de Alegria, em que Maria Helena se destacou, era mais do que um simples programa de rádio; era um verdadeiro evento comunitário. As apresentações de calouros, as performances ao vivo e as interpretações musicais transformavam os domingos em momentos aguardados por toda a cidade, momentos em que o público se conectava profundamente com o que era produzido no próprio solo de Conquista.
Maria Helena Menezes, com seu estilo único e sua voz inigualável, era o reflexo de um talento local que, se tivesse acesso a uma estrutura mais sólida e oportunidades de projeção, poderia ter alçado voos muito mais altos no cenário nacional. Contudo, seu impacto em Conquista foi imensurável. Ela era uma estrela que brilhou intensamente em um tempo em que a música e a arte eram celebradas coletivamente, e seu legado permanece em nossas memórias como uma lembrança gloriosa dessa época.
É impossível falar de Maria Helena sem rememorar a importância do rádio na vida cultural de Conquista. Era o rádio que, de certa forma, democratizava a arte, permitindo que talentos locais fossem ouvidos e admirados. As ondas sonoras eram o palco por onde Maria Helena desfilava sua voz, encantando a todos com interpretações impecáveis que deixavam o público ávido por mais. E, assim, ela se tornou uma figura central de uma geração que enxergava nela uma fonte de orgulho e de inspiração.
Lembrar de Maria Helena é também refletir sobre a própria transformação de Vitória da Conquista. A cidade, que se desenvolvia rapidamente nos anos 1960, encontrou na música, no rádio e nos talentos locais a sua própria identidade cultural. Junto a outros nomes da época, como Mauré Ferreira e Miltinho La Bamba, Maria Helena ajudou a moldar uma era de ouro para a cidade, uma era em que a arte era sinônimo de vida, de alegria e de comunidade.
Mas, como o tempo inexoravelmente passa, muitas coisas mudaram. No entanto, o eco da voz de Maria Helena ainda ressoa na memória de todos que tiveram o privilégio de ouvi-la. Trabalhamos juntos no Presídio Nilton Gonçalves, e sempre que havia oportunidade, eu lhe pedia que me contasse histórias daquele tempo mágico. Sua voz não apenas encantava, mas sua presença irradiava uma força que poucos artistas possuem. Mesmo muitos anos após sua partida, o legado que deixou permanece profundamente enraizado na história de Vitória da Conquista.
Hoje, ao olharmos para trás, podemos ver o quanto a música e o rádio contribuíram para moldar a identidade da nossa cidade. A era de ouro do rádio pode ter ficado para trás, mas a essência daqueles dias vive na lembrança de quem os viveu. Maria Helena Menezes é parte integrante dessa história, uma artista que continuará sendo lembrada com carinho, admiração e saudade.
Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos, é reconfortante saber que algumas coisas nunca mudam: o poder da música e a capacidade de uma voz tocar nossos corações. Maria Helena Menezes fez isso com maestria, e por isso, seu nome ecoará para sempre na memória cultural de Vitória da Conquista.
Padre Carlos