Política e Resenha

ARTIGO – A Mentira como Ferramenta do Poder

 

 

(Padre Carlos)

 

Em tempos de polarização política e manipulação midiática, torna-se cada vez mais importante refletirmos sobre o papel da mentira como ferramenta de poder. A mentira, em sua forma mais insidiosa, não se limita a enganar as massas, mas sim a criar um ambiente onde a distinção entre verdade e falsidade se dissolve por completo. Não se trata apenas de mentir para convencer, mas de subverter a própria capacidade das pessoas de acreditar em algo.

 

Hannah Arendt, em sua análise sobre os regimes totalitários, desenvolveu o conceito de “banalidade do mal”. Para Arendt, o mal não era apenas um ato cometido por monstros ou tiranos, mas algo que poderia se manifestar de forma rotineira, trivial, pelas pessoas simples e até pela burocrática, quando as pessoas abandonam seu senso de responsabilidade moral e crítica. A mentira, no contexto político, funciona da mesma forma. Ela não precisa ser uma grande fraude; sua força reside na repetição e na manipulação contínua que embota a percepção coletiva.

 

Quando a mentira se torna a norma, sua função não é mais fazer com que o povo acredite em algo falso, mas sim garantir que ele não acredite em nada. É o que vemos, por exemplo, nas eleições modernas, onde as táticas de desinformação e manipulação fazem com que os eleitores, bombardeados por uma série de meias-verdades e omissões, fiquem incapazes de discernir o real do ilusório. E assim, pouco a pouco, vamos sendo privados da nossa capacidade de julgar e decidir por conta própria.

 

Esse fenômeno não se limita a contextos distantes ou abstratos. Aqui, nas nossas cidades, observamos estratégias que exploram essa confusão, onde a crítica aos governantes se mistura com campanhas de desinformação, onde a verdade é diluída em um mar de distorções e falsas acusações. Os opositores, por exemplo, muitas vezes recorrem a uma tática perversa: ocultar informações relevantes e depois alegar que isso não é o mesmo que mentir. Essa manipulação semântica visa criar uma cortina de fumaça, onde o verdadeiro se perde e o falso reina.

 

A tragédia dessa situação é que, ao perdermos a habilidade de distinguir entre o certo e o errado, entre a verdade e a mentira, nos tornamos completamente submissos àqueles que manipulam a informação. Como Arendt bem observou, um povo incapaz de julgar é um povo vulnerável a qualquer forma de poder autoritário, pois se torna incapaz de resistir à manipulação.

 

Portanto, é crucial que tenhamos um olhar crítico sobre as narrativas que  são apresentada, especialmente em tempos de eleição. A mentira, quando se torna ferramenta de poder, transforma-se na base para a construção de regimes que operam não para o bem-estar comum, mas para manter o controle e a dominação sobre o povo. Cabe a nós, enquanto cidadãos conscientes, resistir a essa armadilha, buscando a verdade e exigindo transparência de nossos líderes. Só assim podemos evitar cair no império da mentira e preservar nossa capacidade de pensar, julgar e agir com liberdade.