Hoje o Brasil despede-se de uma de suas vozes mais icônicas: Cid Moreira, que nos deixou aos 97 anos, conforme anunciado por sua esposa, Fátima Sampaio, através de Patrícia Poeta no programa Encontro. Cid, um mestre da comunicação, marcou décadas com sua voz inconfundível, gravada na memória coletiva de milhões de brasileiros.
Muito além de sua atuação profissional como locutor e jornalista, Cid Moreira foi um símbolo de estabilidade, confiança e imparcialidade. Durante 27 anos, ele apresentou o Jornal Nacional, fazendo com que sua presença no horário nobre se tornasse sinônimo de credibilidade. Ele, com sua seriedade e eloquência, deu o tom e moldou a forma como o Brasil recebeu notícias importantes por quase três décadas.
Sua trajetória no jornalismo, que começou ao lado de Hilton Gomes, viu a consolidação de uma parceria marcante com Sérgio Chapelin. Juntos, criaram uma era dourada para o Jornal Nacional, posicionando o telejornal como referência em informação no país. Contudo, o legado de Cid vai além dos noticiários. Ele, com seu trabalho no Fantástico e narrações como as do quadro do Mister M, mostrou sua versatilidade e habilidade em capturar a atenção do público em diferentes contextos.
Cid Moreira, no entanto, não se limitou à televisão. Após sua saída do Jornal Nacional em 1996, sua jornada ganhou novos contornos ao dedicar-se à locução de passagens bíblicas. Essa transição revelou um Cid mais íntimo, comprometido com uma missão espiritual que ele mesmo considerava sua maior contribuição à humanidade. As suas narrações da Bíblia, que alcançaram mais de 60 milhões de cópias vendidas, são um legado de fé que ele deixará para as futuras gerações.
Mas nem tudo foram flores nos últimos anos de sua vida. Cid viveu uma guerra familiar que, infelizmente, virou manchete. A disputa com seus filhos adotivos e biológicos tornou-se pública e envolveu acusações que iam desde a destituição do direito à herança até maus-tratos, por parte de sua esposa, Fátima. Contudo, Cid, sempre sereno, escolheu manifestar-se em público, reafirmando o amor que o ligava à sua esposa e deixando claro que sua vida era guiada por princípios maiores.
A despedida de Cid Moreira, inevitavelmente, nos faz refletir sobre o tempo, a memória e o que deixamos de legado. Sua voz, agora silenciada, continuará ecoando nas lembranças de quem cresceu ouvindo-o narrar os principais acontecimentos da história recente do Brasil. E mais do que isso, Cid Moreira será lembrado como um homem que encontrou, na comunicação, uma ponte para sua missão espiritual, levando conforto e ensinamento àqueles que o acompanhavam.
Seu compromisso com a palavra, tanto jornalística quanto bíblica, transcendeu barreiras. Hoje, podemos dizer que ele cumpriu sua missão até o último dia de sua vida, como ele próprio já havia previsto. Despede-se de nós não apenas um apresentador, mas uma figura quase mitológica, uma lenda viva que fez da palavra sua maior arma e seu maior dom.
Que Cid Moreira descanse em paz, sabendo que seu nome permanecerá gravado para sempre na história da comunicação brasileira e no coração de todos que, um dia, o ouviram.