As eleições municipais no Brasil confirmaram o domínio político de forças que representam a direita liberal e o centro-direita. Com a maior parte dos prefeitos eleitos ou reeleitos em capitais estratégicas, o recado das urnas foi claro: o eleitor brasileiro, de maneira geral, segue optando por partidos alinhados com essa orientação. Além disso, o chamado Centrão, com sua histórica capacidade de articulação, mais uma vez mostrou sua força ao garantir posições-chave no cenário nacional.
O que se pode observar dos resultados é a prevalência de partidos como o PSD, União Brasil, PL, PP e MDB, que juntos consolidam a hegemonia de forças tradicionais da política brasileira, marcadamente inclinadas ao liberalismo econômico, a uma administração pública pragmática e à manutenção de relações institucionais que favoreçam o desenvolvimento local com controle de despesas e investimentos estratégicos.
O fato de capitais como Rio de Janeiro, Salvador e Vitória terem reeleito seus gestores demonstra a confiança que esses líderes construíram com suas administrações. Eduardo Paes, Bruno Reis e Lorenzo Pazolini são exemplos típicos de políticos que representam a continuidade de uma gestão liberal, voltada para resultados econômicos, modernização da máquina pública e, em certa medida, o distanciamento de pautas que a esquerda procura empurrar no debate público.
Vale destacar, ainda, o enfraquecimento de forças progressistas, com a exceção de disputas apertadas em cidades como Fortaleza e Porto Alegre, onde há possibilidade de candidaturas de esquerda disputarem o segundo turno com chance de vitória. Contudo, é evidente que o terreno das grandes metrópoles ainda está bem consolidado nas mãos da direita e do Centrão.
O Centrão: Mais Forte do Que Nunca
Se há um vitorioso a ser destacado nessas eleições, é o Centrão. Com um papel sempre camaleônico, o bloco conseguiu colocar candidatos viáveis em praticamente todas as principais cidades do país. Partidos como o MDB e o PSD mantiveram uma estratégia bem-sucedida, adaptando-se conforme o contexto local e apresentando candidatos que dialogam diretamente com as necessidades dos eleitores, seja por meio de promessas de desenvolvimento urbano, segurança ou gestão fiscal eficiente.
Essas vitórias não são à toa. O Centrão tem a capacidade de articular interesses locais e nacionais, construindo coalizões que vão do pragmatismo político à sobrevivência em um sistema complexo como o brasileiro. E mesmo com a crescente polarização política do país, o eleitorado parece valorizar mais a estabilidade e o equilíbrio oferecidos por essas forças.
O Segundo Turno e o Desafio para a Esquerda
As capitais que ainda irão para o segundo turno, como São Paulo, Belo Horizonte, e Porto Alegre, trazem uma esperança para a esquerda e o progressismo. No entanto, a grande quantidade de candidatos de partidos como PL e União Brasil disputando o segundo turno indica que a direita continua em uma posição confortável. Em São Paulo, por exemplo, Ricardo Nunes (MDB) enfrenta Guilherme Boulos (PSOL), numa disputa que simboliza o embate direto entre a gestão tradicional e as novas forças progressistas.
A ausência de uma ampla mobilização em favor da esquerda, como foi vista em eleições passadas, também pode ser indicativa de uma tendência geral no país. A desmobilização dos movimentos populares e a incapacidade de apresentar projetos que dialoguem com a classe média urbana podem ser fatores determinantes para o resultado final em cidades onde a direita enfrenta desafios.
Conclusão: O Caminho da Direita Está Abertado
A realidade política das eleições municipais de 2024 mostra um Brasil que se mantém inclinado à direita, com o Centrão dominando com sua capacidade de articulação e pragmatismo. O segundo turno será um espaço decisivo para confirmar essa tendência ou apontar eventuais surpresas, mas a narrativa que emerge dessas urnas é a de que o liberalismo econômico e o conservadorismo moderado ainda são as preferências predominantes no país.
A esquerda terá o desafio de se reinventar e apresentar propostas que dialoguem melhor com a realidade das grandes cidades, sob o risco de continuar perdendo espaço para forças que, mesmo com sua heterogeneidade, conseguem se conectar com o eleitor médio. Para a direita e o centro-direita, a vitória já está assegurada. O que resta saber é até que ponto essa hegemonia será mantida e como eles irão capitalizar politicamente esse triunfo nas próximas eleições nacionais.