Política e Resenha

ARTIGO – A Invisibilidade da Heroína que Criou o Dia do Professor (Padre Carlos)

 

 

 

Quando um menino no interior do Maranhão e uma menina gaúcha comemoram o 15 de outubro, o Dia do Professor, provavelmente celebram seus mestres com gratidão. A data é conhecida por todos os cantos do Brasil, mas quantos desses estudantes sabem a história por trás desse dia? Quantos professores, que recebem homenagens, conhecem a mulher que tornou essa celebração possível? Antonieta de Barros, uma heroína brasileira, negra e mulher, foi a responsável por criar o Dia do Professor, mas sua trajetória e legado permanecem ocultos da memória popular.

Antonieta de Barros é um nome que deveria ressoar tanto nas salas de aula quanto nas ruas. Nascida em 1901, em Florianópolis, foi uma das primeiras mulheres a entrar na política brasileira e a primeira deputada negra do país. Eleita em 1934 como deputada estadual por Santa Catarina, Antonieta dedicou sua vida à educação e à luta pela igualdade de gênero e racial. Seus feitos são dignos de destaque, não só por ser uma pioneira no parlamento, mas por seu papel fundamental na promoção da educação e da cultura, especialmente para os marginalizados.

Mas por que, então, seu nome é tão desconhecido? Por que, enquanto comemoramos o Dia do Professor, não falamos da mulher que tornou a data oficial? A resposta está nas camadas de invisibilidade que recobrem figuras históricas como Antonieta. Ser mulher e negra no Brasil, mesmo nos dias atuais, é sinônimo de desafios, imagine há quase um século. Sua história não foi contada com o vigor que deveria, nem celebrada com a mesma intensidade que outras figuras históricas.

Antonieta não foi apenas uma legisladora que criou o Dia do Professor. Ela foi uma educadora visionária, jornalista e defensora das causas populares. Em um tempo de severas limitações para as mulheres, especialmente negras, ela desafiou todas as expectativas ao ocupar espaços tradicionalmente destinados aos homens brancos. O fato de sua contribuição não ser amplamente conhecida reflete uma tendência histórica de apagar ou diminuir o papel de mulheres negras na construção do país.

Os estudantes que comemoram o 15 de outubro, seja no Maranhão ou no Rio Grande do Sul, precisam saber quem foi Antonieta de Barros. Precisam conhecer não apenas o fato de ela ter sido a primeira deputada negra, mas também sua batalha incansável por uma educação acessível e de qualidade para todos. E os professores, especialmente, precisam reverenciar essa figura que, em muitos aspectos, lutou para garantir o reconhecimento da profissão que tanto dignifica.

A omissão de Antonieta de Barros dos livros de história e das discussões sobre o Dia do Professor é mais um exemplo de como o racismo e o machismo estrutural permeiam nossa sociedade. Se queremos um país verdadeiramente igualitário, onde todos tenham acesso às mesmas oportunidades, é necessário recontar a história, dar voz às figuras apagadas e garantir que suas contribuições sejam celebradas e conhecidas.

Antonieta de Barros merece estar nos currículos escolares, nas discussões acadêmicas, nos debates sobre a igualdade racial e de gênero. Seu nome deve estar associado à data que instituiu e às suas inúmeras lutas pela educação. Não podemos permitir que seu legado permaneça invisível.

Assim, ao celebrarmos o Dia do Professor, que seja também uma oportunidade para homenagear a mulher que tornou isso possível. Antonieta de Barros foi, e sempre será, uma heroína brasileira. Não podemos deixá-la ser esquecida.