Política e Resenha

ARTIGO – O Voo da Liberdade e o Peso das Certezas (Padre Carlos)

 

 

A liberdade sempre foi tema de inquietação e reflexão para os grandes pensadores da humanidade. Na citação extraída de Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, somos confrontados com o dilema que todos enfrentamos: o desejo pelo voo, mas o medo da altura. Esse voo representa a liberdade, a coragem de agir conforme nosso livre-arbítrio, enquanto a altura simboliza o risco e o vazio de certezas que essa liberdade traz.

Ao tomarmos decisões, exercemos nosso livre-arbítrio, mas com isso vem uma carga pesada de responsabilidade. É como Sartre nos ensinou: “estamos condenados a ser livres”. Ele nos alertava sobre o peso dessa liberdade, que, embora nos liberte das amarras do determinismo, nos coloca diante de uma escolha constante, carregada de consequências. A liberdade, em si, é um espaço de possibilidades, mas também de incertezas. E é justamente esse vazio, essa ausência de garantias, que nos aterroriza.

Por isso, muitos preferem trocar o voo pelas gaiolas. Elas são o lugar das certezas, das escolhas já feitas, dos caminhos seguros. Trocar a liberdade por segurança é um dos dilemas mais presentes no ser humano. As gaiolas nos protegem do vazio, mas também nos impedem de viver plenamente o voo da existência. Esse é o paradoxo: para viver a verdadeira liberdade, é preciso aceitar o risco, o não saber, a ausência de garantias.

Nos grandes romances e clássicos, como os de Dostoiévski e Sartre, encontramos personagens confrontados por essa realidade: a liberdade plena assusta. Aqueles que ousam voar, como os heróis trágicos, experimentam a liberdade em sua forma mais intensa, mas também sofrem as consequências de suas escolhas. No entanto, é nesse voo, nesse encontro com o vazio, que reside a verdadeira experiência humana. A grandeza da liberdade está em aceitar que, para viver de fato, é preciso enfrentar o vazio e o desconhecido.

O livre-arbítrio, portanto, é tanto um presente quanto um fardo. Cada escolha que fazemos carrega em si uma responsabilidade e uma perda. Ao escolhermos uma coisa, automaticamente deixamos outra para trás. O filósofo existencialista dizia que “o homem está condenado a ser livre”, e talvez essa condenação seja o que mais assusta. A liberdade nos confronta com a necessidade de construir o nosso próprio caminho, sem mapas, sem garantias.