A busca pela polarização política entre direita e esquerda no cenário nacional tem sido um dos maiores obstáculos para a solução dos problemas locais. O recente episódio em Camaçari, com a iminente presença de Jair Bolsonaro para uma motociata ao lado de Flávio Matos, reflete exatamente essa dinâmica: o foco na polarização nacional, enquanto as questões urgentes da cidade ficam relegadas a segundo plano.
Depois de Lula ter realizado um grande ato de apoio ao candidato Luiz Caetano, que reuniu milhares de pessoas, agora é a vez de Bolsonaro entrar no palco local para reforçar a disputa entre as duas figuras mais emblemáticas da política nacional. Parece que, para muitos políticos, a solução dos problemas urbanos não depende mais de projetos concretos, mas de qual líder carismático pode atrair mais eleitores com grandes shows e gestos simbólicos.
A pergunta que fica é: o que os moradores de Camaçari realmente ganham com isso? Em vez de discutir temas essenciais como mobilidade urbana, saúde pública, segurança ou a criação de oportunidades de emprego, os candidatos se escondem por trás das bandeiras de Lula e Bolsonaro, utilizando as paixões que essas figuras suscitam para alavancar suas campanhas. Enquanto isso, os desafios cotidianos da população continuam sem solução.
A polarização entre Bolsonaro e Lula já demonstrou seu efeito divisivo em escala nacional, criando uma barreira para o diálogo e para a busca de soluções conjuntas. Infelizmente, essa tática tem sido amplamente reproduzida em nível local, especialmente em cidades como Camaçari, onde a população carece de discussões sérias e de propostas que realmente atendam às suas necessidades. O debate político foi reduzido a um cabo de guerra entre dois extremos, e a política local está sendo drenada para dentro desse conflito de narrativas nacionais.
A verdade é que a presença de Lula e Bolsonaro em Camaçari não resolverá os problemas de saneamento básico, não criará novas escolas, nem melhorará os postos de saúde. O que temos é uma disputa simbólica, onde as questões reais se tornam invisíveis. A política municipal deveria ser uma arena de construção coletiva, onde se discutem soluções práticas, mas o que se vê é um jogo de vaidades, onde os holofotes brilham mais sobre os candidatos que sobre os problemas que eles deveriam resolver.
Os moradores de Camaçari precisam exigir mais de seus candidatos. Não é a presença de um ex-presidente que deveria definir o futuro da cidade, mas sim um debate profundo sobre as soluções para os desafios locais. A política não pode ser reduzida a uma eterna batalha entre direita e esquerda em busca de prestígio nacional. Afinal, a vida acontece nas cidades, e é nelas que precisamos de governantes focados em resolver problemas, e não em alimentar narrativas polarizadoras.
Assim como vimos a presença de Lula inflamar os ânimos em um comício de Caetano, agora teremos Bolsonaro fazendo o mesmo ao lado de Flávio Matos. Em vez de unir a cidade em torno de projetos comuns e soluções concretas, ambos os eventos servem apenas para dividir ainda mais a população. Chegou o momento de repensarmos nossas prioridades e de exigir uma política que olhe para o que realmente importa: a qualidade de vida das pessoas, e não as ambições de poder das figuras nacionais.
Camaçari merece mais do que uma motociata ou um comício de palco. Merece projetos sólidos, liderança local comprometida e, acima de tudo, um compromisso com o diálogo e com a solução dos problemas da cidade. De nada adianta estarmos divididos em um “nós contra eles” se, ao final, quem realmente perde é a própria cidade.
Padre Carlos