É impossível não se sentir profundamente comovido diante da violência crescente que tem devastado as famílias baianas. Nos últimos dias, nossa Bahia chorou a morte de jovens cujas vidas foram brutalmente interrompidas de formas trágicas e revoltantes. O que mais fere é que essas tragédias não acontecem com estranhos, não são relatos distantes, mas sim com nossos filhos, irmãos, amigos e vizinhos. Diante desse cenário, é imperativo que questionemos o que as autoridades e nós, como sociedade, estamos fazendo para proteger nossos jovens.
Em Heliópolis, uma pequena comunidade no Nordeste Baiano, o silêncio de uma cidade interiorana foi rasgado pelos disparos que tiraram a vida de Jonathan Gama dos Santos, Fernanda Sousa Gama e Adriele Vitória Silva Ferreira, em um ataque devastador dentro de uma escola. Uma escola, local que deveria ser sinônimo de aprendizado, refúgio e segurança, foi palco de um horror que jamais será esquecido. Como pode uma tragédia dessa magnitude acontecer em um ambiente onde nossos filhos deveriam estar protegidos? Como podemos aceitar que, mesmo diante de sinais que muitas vezes são ignorados, esses ataques continuem a acontecer?
Essa pergunta ecoa também em Cândido Sales, onde a jovem Maria Eduarda Rodrigues Santos, de apenas 16 anos, foi brutalmente assassinada na porta de sua própria casa. Duda, como era carinhosamente conhecida, deixa para trás uma filha de apenas cinco meses, que crescerá sem o abraço de sua mãe. Não há palavras que confortem uma mãe ou pai que vê o caixão de um filho ser enterrado antes do seu. E não há dor maior do que a de uma criança que nunca conhecerá o amor e o cuidado da pessoa que lhe deu a vida. A pergunta que grita é: quem está falhando? Onde estão as medidas de proteção para nossas crianças e adolescentes?
E como se a dor já não fosse profunda o suficiente, Coaraci, no sul da Bahia, se viu dilacerada pelo duplo assassinato de Bia e Priscila, cujas mortes brutais deixaram a comunidade em estado de choque. Essas jovens, cujas histórias agora se encerram de maneira tão abrupta, nos fazem perguntar novamente: onde estão as autoridades? Onde está a estrutura de segurança que deveria proteger nossas comunidades? Mas, mais do que isso, onde estamos nós, como sociedade? Estamos realmente prestando atenção no que está acontecendo ao nosso redor?
É comum, em momentos de luto e dor, buscarmos culpados. Apontar o dedo para o governo, para a polícia, para a falta de políticas públicas. E, sem dúvida, há responsabilidades a serem cobradas. Não podemos aceitar que as autoridades vejam essas tragédias como meros números em um relatório de violência. Não podemos aceitar que nossos jovens sejam mortos em ataques brutais e que isso se torne mais uma estatística. As vidas de Jonathan, Fernanda, Adriele, Duda, Bia e Priscila não podem ser reduzidas a números.
Entretanto, precisamos também olhar para dentro de nossas casas. Com quem nossos filhos estão andando? Que tipo de influência estão recebendo? O perigo não está apenas nas grandes cidades ou nos bairros mais violentos. Está ao nosso redor. A tragédia não acontece apenas com os outros. Ela acontece com a gente. E, muitas vezes, acontece porque não estamos atentos ao que está ao nosso alcance.
As redes sociais nos mostraram o quanto de nossa vigilância foi terceirizada para as telas de celulares, enquanto o diálogo dentro das famílias foi, muitas vezes, deixado de lado. Não sabemos mais quem são os amigos de nossos filhos, o que eles pensam, o que os preocupa. E quando a tragédia chega, como chegou a Heliópolis, Cândido Sales e Coaraci, nos perguntamos como aquilo aconteceu tão perto de nós, sem que tivéssemos percebido.
É um grito de alerta que precisa ser ouvido, tanto pelas autoridades quanto pelos responsáveis por esses jovens. A proteção de nossos filhos não é responsabilidade de uma única pessoa ou instituição. É de todos nós. As tragédias que varreram a Bahia nesta última semana são o reflexo de uma sociedade que precisa urgentemente se reorganizar e repensar suas prioridades. Se não agirmos agora, quantos mais precisaremos enterrar antes de dizer basta?
Os ataques contra nossos adolescentes não podem mais ser tratados com descaso. Não podemos mais fechar os olhos. E se o governo, as escolas, as famílias e a comunidade não se unirem para proteger o futuro de nossos jovens, o que nos resta como sociedade? O que nos resta como seres humanos? A dor dessas famílias é a nossa dor. E ela precisa ser um ponto de virada. Chega de perdermos nossos jovens. Chega de tragédias que podem ser evitadas.