A recente decisão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de encerrar a concessão da Via Bahia, gestora dos trechos da BR-116 e BR-324, deveria ser motivo de alívio para a população. Afinal, há anos, essas rodovias são sinônimos de buracos, acidentes e prejuízos incalculáveis. No entanto, ao invés de vermos uma solução que nos beneficie, o que enxergamos é mais uma vez a confirmação de que, no Brasil, o povo sempre paga a conta, enquanto os grandes grupos saem ilesos e lucram.
O acordo prevê o pagamento de R$ 681 milhões por “ativos não amortizados” à concessionária, além de mais R$ 80 milhões para encerrar a sociedade e pagar os litígios. Isso sem contar que nós, os cidadãos, vamos arcar com R$ 131 milhões em financiamentos que a empresa tomou junto ao Banco do Nordeste e ao Banco do Brasil. O total? Uma fatura de impressionantes R$ 892 milhões que, de uma forma ou de outra, nós pagaremos.
Agora, cabe a pergunta que ninguém da ANTT, do governo ou da Via Bahia parece querer responder: onde está o reembolso para quem realmente sofreu com essa situação? Onde estão os recursos para aqueles que tiveram seus veículos quebrados, danificados pelas crateras da BR-324? E as famílias que perderam entes queridos em acidentes que poderiam ter sido evitados, se a rodovia estivesse em condições minimamente aceitáveis?
A Via Bahia, durante todo o período em que deteve a concessão, fez pouco além de capinar as margens da rodovia. A promessa de melhorias, de um serviço de qualidade em troca dos altos pedágios, nunca foi cumprida. No entanto, ao que parece, quem vai ser indenizado é a concessionária, enquanto nós, que pagamos religiosamente os pedágios, ficamos à mercê de rodovias esburacadas e perigosas.
É inaceitável que, após anos de descaso, a empresa saia de cena com os bolsos cheios, sem arcar com as consequências de sua má gestão. E pior: os mesmos R$ 892 milhões que serão pagos à Via Bahia e aos bancos poderiam ser destinados para o reembolso dos motoristas que perderam tempo, dinheiro e até vidas nas BR-116 e BR-324. Mas, ao invés disso, seremos nós a arcar com mais esse ônus.
A Via Bahia tem até o dia 31 de dezembro para deixar de operar, e enquanto isso, continuamos sem respostas claras sobre o que será feito. Mais uma vez, a burocracia e o descaso com o cidadão imperam. Mas não podemos aceitar essa situação calados. É nosso dever, como cidadãos e contribuintes, exigir que a Via Bahia devolva o que é nosso por direito. Que os pedágios pagos sem o devido retorno sejam reembolsados, que as indenizações cheguem a quem de fato sofreu as consequências desse descalabro.
Não podemos permitir que uma empresa, que não cumpriu suas obrigações contratuais, saia ilesa, enquanto nós continuamos pagando o preço, em todos os sentidos. A Via Bahia deve ser responsabilizada, e os recursos que ela está recebendo deveriam ser revertidos para nós, os verdadeiros prejudicados. Vamos cobrar, com firmeza, o que nos é devido. É o mínimo que podemos exigir.