Política e Resenha

ARTIGO – A Voz dos Conquistenses e o Valor do Voto Democrático (Padre Carlos)

 

 

 

 

A recente declaração do Deputado José Raimundo Fontes sobre a sucessão municipal em Vitória da Conquista revela uma confiança inabalável em seu grupo político. Seu discurso parte de um entendimento de que, caso a Justiça Eleitoral venha a anular os votos da prefeita Sheila Lemos, seu candidato Waldenor Pereira, o segundo colocado, assumiria a chefia do executivo, ou haveria um novo pleito onde ele seria, inevitavelmente, o principal nome na disputa. Mas, por trás dessa confiança, estão algumas omissões relevantes sobre o cenário político e a vontade da maioria dos eleitores conquistenses.

O primeiro ponto que merece destaque é a representatividade da votação de Waldenor Pereira. Com um percentual de 26,74% dos votos válidos, ele obteve, sim, um volume considerável de apoio, mas insuficiente para corresponder à escolha majoritária. A eleição de Sheila Lemos reflete uma escolha popular inquestionável, e os votos que ela recebeu representam um desejo claro. Aqui, cabe uma questão: seria legítimo desconsiderar a decisão de grande parte dos eleitores como se a mesma fosse secundária?

Em democracias representativas, o voto da maioria é a chave para a escolha de lideranças, independentemente das disputas jurídicas e administrativas que podem vir a ocorrer. Ao propor que o segundo colocado assuma automaticamente a liderança sem uma nova eleição, o grupo político do deputado parece sugerir que o resultado eleitoral e o desejo de grande parte dos eleitores podem ser ignorados. Essa é uma visão que, além de simplificar excessivamente o processo democrático, o empobrece, ignorando o direito dos conquistenses à escolha plena.

Outro argumento do Deputado José Raimundo é o peso das lideranças políticas estaduais e nacionais que apoiam Waldenor Pereira, como o governador e o presidente. Contudo, a realidade política local de Vitória da Conquista vai além dos interesses e apoios externos. Apoios, por mais influentes que sejam, não substituem a escolha individual do eleitor local. A política de Vitória da Conquista deve ser decidida por quem aqui reside, conhece a realidade da cidade, vive seus desafios e, por isso, está mais capacitado a decidir qual candidato melhor representa os interesses locais.

É também importante considerar o erro de percepção ao sugerir que os eleitores de outros candidatos adeririam naturalmente ao projeto de Waldenor Pereira em um novo pleito. Essa visão presume que os votos são propriedades de alianças políticas ou partidos, e não de eleitores que, ao decidir seus votos, ponderam sobre a trajetória, as ideias e as propostas de cada candidato. Cada candidatura, em especial de candidatos locais, carrega consigo uma identidade própria e um compromisso com a cidade que não pode ser facilmente transferido de um lado a outro.

Nesse debate, há algo maior do que a mera questão da elegibilidade ou não de um candidato: a dignidade do voto do cidadão. Ao desconsiderar a escolha de grande parte dos eleitores, sugerindo uma sucessão automática ou uma possível vitória antecipada do segundo colocado, o grupo do Deputado parece interpretar a política como um jogo onde o objetivo é ganhar a qualquer custo, ainda que isso implique ignorar a vontade popular.

O verdadeiro debate que se coloca não é sobre a substituição ou anulação de votos; é sobre respeito à escolha do povo de Vitória da Conquista. Qualquer desfecho deve primar pela preservação do desejo dos conquistenses, que exerceram seu direito democrático e manifestaram claramente suas preferências.