Política e Resenha

ARTIGO – A Violência em Conquista e os Limites da Justiça com as Próprias Mãos (Padre Carlos)

 

 

O caso ocorrido nesta terça-feira, 5 de novembro, no bairro Campinhos, em Vitória da Conquista, levanta uma questão urgente e inquietante sobre segurança pública e a reação da população diante do crime. Gabriel, um jovem identificado como autor de uma tentativa de assalto, foi detido e agredido por populares antes de ser encaminhado para atendimento médico e, posteriormente, à Delegacia Integrada de Segurança Pública (Disep). Essa situação reflete uma resposta imediata, mas profundamente arriscada, que pode desencadear um ciclo de violência ainda maior.

As reações populares a casos de criminalidade, especialmente em áreas onde a sensação de insegurança é constante, são compreensíveis. Muitos moradores já não se sentem seguros, e o medo acaba empurrando as pessoas para soluções imediatistas, como as agressões a suspeitos. No entanto, por mais compreensível que seja o desejo de reagir, ações como essa abrem espaço para um problema ainda mais grave: a perda do controle social, onde qualquer cidadão se vê como juiz e executor. Isso cria o risco de se punir injustamente inocentes e de alimentar uma espiral de violência que afeta todos, inclusive aqueles que buscam apenas viver em paz.

A questão, portanto, é: como podemos reagir de forma justa e eficaz diante do crime sem sucumbir à violência e à vingança? A resposta passa, sem dúvida, por fortalecer a confiança nas forças de segurança e no sistema de justiça, algo que hoje parece fragilizado. É essencial que as pessoas tenham certeza de que, ao acionarem a polícia, serão atendidas com agilidade e eficiência, reduzindo o impulso de resolver situações de forma imediata e sem os devidos processos legais.

As autoridades também têm um papel crucial em orientar e reforçar que a justiça não pode ser feita pelas próprias mãos, pois, ao contrário de solucionar o problema, pode piorar a situação, gerando novos conflitos e colocando vidas em risco. A população deve ser incentivada a se proteger, sim, mas sempre com a consciência de que a segurança é uma responsabilidade coletiva, que envolve tanto o cidadão quanto o Estado.

O episódio envolvendo Gabriel é um alerta para os limites da resposta popular à criminalidade. Mais do que nunca, precisamos de uma segurança pública que não apenas reprima o crime, mas que também trabalhe para construir uma cultura de paz e respeito. A violência, em qualquer forma, não pode ser a resposta para os nossos problemas. Em uma sociedade verdadeiramente justa, a solução para a criminalidade não está na vingança, mas em fortalecer a justiça e o respeito pela vida e pelos direitos de todos.