Política e Resenha

ARTIGO – Pela Memória e Pela Justiça: A Verdade Sobre Rubens Paiva e a Luta Contra o Esquecimento (Padre Carlos)

 

 

 

Os documentos descobertos na casa do coronel reformado Júlio Miguel Molinas Dias em 2012 trouxeram à tona um capítulo sombrio e perturbador da história brasileira: a violência, a tortura e o desaparecimento forçado de cidadãos durante o regime militar. Entre esses casos, o do ex-deputado Rubens Paiva é emblemático. Preso, torturado e executado nas dependências do DOI-Codi em 1971, Paiva foi apagado oficialmente dos registros, mas sua história, como a de tantos outros brasileiros, não pode ser varrida para debaixo do tapete da história.

O jornalista José Luís Costa, que teve a tarefa de copiar cada uma das 200 páginas do arquivo macabro do coronel Molinas, demonstrou uma determinação rara em tempos em que a verdade era ainda mais velada. Ele não podia fotografar, filmar ou usar outros recursos digitais; sua única opção era a paciência e a persistência. O esforço exaustivo de Costa é um exemplo do compromisso que o jornalismo tem com a verdade, e cada página copiada é um grito daqueles que não puderam voltar para casa, daqueles que foram silenciados, mas jamais esquecidos.

Ver a história de Rubens Paiva contada no recente filme de Walter Salles Júnior, “Ainda Estou Aqui”, nos leva a um confronto necessário com a dor, não apenas para entender o passado, mas para garantir que ele não seja apagado ou distorcido. A viúva de Rubens, Eunice Paiva, foi uma voz incansável na busca pela verdade. Sua luta, enfrentando a burocracia e a negação de um Estado autoritário, é também a luta de todos nós, que acreditamos na justiça, na dignidade e no valor fundamental da memória.

Ainda hoje, enquanto assistimos a tentativas de reescrever a história e de relativizar os crimes cometidos, a importância da memória se destaca. Permitir que o passado seja esquecido é abrir espaço para que crimes semelhantes possam ser tolerados ou repetidos. Eunice e muitos outros familiares das vítimas de tortura e desaparecimento forçado nos mostram que a resistência começa pela recusa de aceitar a mentira.

Nosso compromisso como sociedade precisa ser firme: exigir transparência, reivindicar a justiça e resguardar o direito à verdade. Esses documentos não pertencem apenas à família Paiva, mas a todos os brasileiros. Cada linha, cada folha copiada por Costa é um lembrete da dignidade humana violada, do direito de todos nós de viver em um país onde a verdade não pode ser manipulada conforme a conveniência de alguns.

A jornada de Eunice Paiva e a resiliência de jornalistas como José Luís Costa são lições duradouras. Que suas vozes nos inspirem a manter vivo o desejo de justiça, a impedir que a história seja distorcida e a honrar aqueles que foram arrancados da vida, mas não do coração de um país que luta para se lembrar e aprender com seu passado.