Padre Carlos
No vasto palco da justiça brasileira, assistimos a uma saga que começou como um épico de combate à corrupção e terminou como uma trágica narrativa de egos inflados e ilusões perdidas. Sergio Moro e os procuradores da Operação Lava Jato, em sua busca por justiça, se perderam nos holofotes do estrelato, tornando-se jogadores e árbitros em um jogo perigoso.
“Sergio Moro e os procuradores da operação Lava Jato se encantaram com o estrelato e se sentiram celebridade. Começaram a se endeusar, começaram a se apaixonar e acharam que poderiam ser política. Jogador e árbitro. Este foi o grande erro.”
O encanto pelo estrelato judicial é uma senda escorregadia, onde a linha entre a missão de combate à corrupção e o desejo de serem celebridades se torna turva. O perigo reside no momento em que a paixão pela justiça é substituída pela paixão por holofotes. Tornar-se jogador e árbitro simultaneamente é o prenúncio de um grande erro ético.
“Eu costumo dizer que o mal do esperto é achar que todo mundo é burro.”
A arrogância é a raiz de muitos males. O pressuposto de que a astúcia pode obscurecer a visão alheia é um caminho perigoso. O culto ao próprio brilhantismo pode cegar até os mais nobres propósitos, transformando a busca pela verdade em uma encenação vazia de virtude.
“Ao cometer a grande lesão ética das suas vidas e impossível de ser corrigida, um juiz condenar um político e, como consequência dessa condenação, o político fica fora da eleição e esse juiz vai ser ministro do político que ganha a eleição.”
A lesão ética em questão é monumental. Quando o sistema de justiça se torna um instrumento de exclusão política, desencadeando uma sequência em que o juiz se torna ministro do vitorioso, a linha entre justiça e política desaparece. O resultado é a metamorfose de juiz a político, uma transformação irreversível.
“Quando isto acontece, não é mais justiça, não é mais juiz, é um político. Um politiqueiro, pilantra.”
A metamorfose é completa, e o que emerge do processo não é mais um guardião imparcial da lei, mas um politiqueiro, um termo que evoca a fusão indesejada de funções. A palavra “pilantra” ressoa como um lembrete amargo de que a corrupção pode se insinuar nos corações daqueles que acreditam estar acima dela.
“E o que é pior: aceitou vantagem, capítulo do Código Penal. O cargo seria… É vantagem devida.”
A queda ética atinge seu ápice quando o juiz, agora transformado em político, aceita vantagens. A promessa de um cargo no Supremo Tribunal Federal, codificada como vantagem devida, mancha irreparavelmente a integridade que deveria ser a espinha dorsal do sistema judicial.
“Então entra como vantagem. O cargo e a promessa de um cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro publicamente prometeu… Então, se tivesse prometido um saco de dinheiro, a imprensa burguesa e corporativa entendia que era suborno.”
A ironia atinge seu auge quando as promessas de cargos vitais são tratadas com condescendência pela mídia. Se um saco de dinheiro é considerado suborno, prometer posições de poder deveria ser igualmente condenável. No entanto, as vozes críticas se calam, permitindo que a corrupção se esconda sob o disfarce de “vantagem devida”.
“Mas prometer um cargo vitalício do Código também é vantagem devida. E elas se calaram! E ele se corrompeu, ‘E foi tanta felicidade Que toda cidade se iluminou E foram tantos beijos loucos Tantos gritos roucos como não se ouvia mais Que o mundo compreendeu E o dia amanheceu em paz.'”
A triste conclusão é que a corrupção, quando aceita e tolerada, se espalha como um câncer. As palavras finais citam uma “felicidade” momentânea, uma ilusão que obscurece as consequências de longo prazo. Quando o dia amanhece, é crucial confrontar a realidade e buscar a verdadeira paz, não em promessas vazias, mas na restauração da integridade perdida.