Em uma sociedade que clama por justiça e integridade, a postura ética se torna um requisito essencial, não importando o cargo ou a posição que alguém ocupa. A ética, muito além de uma mera formalidade, deve ser a coluna vertebral de qualquer função exercida, seja o trabalho árduo de um operário em uma construção, seja a responsabilidade espiritual de um bispo. Todos, sem exceção, têm um compromisso com a sociedade e com a transparência no exercício de suas funções.
A recente renúncia de dom Carlos Alberto dos Santos, bispo de Itabuna (BA), é um exemplo que nos leva a refletir sobre o papel da ética e da responsabilidade nos mais variados cargos. Aos 69 anos, com sua renúncia aceita pelo papa Francisco, dom Carlos Alberto encerra sua trajetória episcopal, marcada por acusações de supostas irregularidades financeiras. Segundo o Ministério Público de Sergipe, ele teria continuado a receber salário de professor da rede estadual de ensino em Sergipe, desde 2005, mesmo após assumir o episcopado em outra cidade e estado. Esse valor, segundo a denúncia, acumula um total de R$ 778.127,59, montante que teve seus bens bloqueados pela Justiça.
Ao refletirmos sobre a postura ética e as responsabilidades que pesam sobre os líderes religiosos, é inevitável ponderar sobre o impacto de uma acusação como esta para os fiéis e a comunidade que ele liderava. O líder espiritual é, para muitos, um exemplo a ser seguido, alguém que encarna valores de integridade e justiça. Quando uma figura de autoridade eclesiástica enfrenta denúncias, o dilema ético toma proporções ainda maiores, pois a confiança que a sociedade deposita nesses líderes transcende as paredes das igrejas e toca as esferas do próprio caráter moral.
O Código de Direito Canônico, no cânon 401, indica que um bispo pode pedir sua renúncia antes da idade estabelecida por motivos de saúde ou por outras razões graves. No entanto, a falta de clareza sobre as motivações específicas que levaram dom Carlos Alberto a renunciar gera questionamentos e, sobretudo, a necessidade de que a transparência seja promovida em situações como esta.
O papa Francisco, ao nomear dom Jailton de Oliveira Lino, bispo de Teixeira de Freitas – Caravelas (BA), como administrador apostólico de Itabuna, busca oferecer continuidade e estabilidade para a comunidade, num momento delicado em que a diocese precisa de serenidade e confiança.
Esses episódios revelam a importância de se adotar uma postura ética e de zelo em todas as instâncias da vida pública e religiosa. A verdade é que a moralidade e a justiça não podem ser relativizadas. Um bispo, assim como um operário ou qualquer outro cidadão, deve estar comprometido em honrar seu cargo e sua função perante a sociedade. A ética não deve ser um privilégio nem uma exceção, mas uma prática obrigatória para todos.
Assim, esperamos que o novo administrador apostólico e os demais líderes da Igreja Católica possam reafirmar a missão de ser um exemplo de virtude e verdade para os fiéis e a comunidade. Afinal, em tempos de crises morais e éticas, são os atos concretos de transparência e responsabilidade que restauram a confiança e renovam a fé da sociedade naqueles que a conduzem.