Caminho pelas lembranças como quem revisita velhos amigos, aqueles que o tempo não consegue apagar. Os anos da Pituba nos anos 1960 parecem hoje um sonho envolto em névoa, um tempo mágico e, na minha memória, quase imortal. Era um bairro que pulsava com a vida simples, as brincadeiras na rua, as primeiras amizades, os risos soltos. Às vezes, parece que ainda escuta o chamado do meu pai, sua voz que já não existe mais, e da minha mãe, que fazia aquela lar um lugar seguro e eterno. A vida nos atrasou de muitas coisas, e delas, principalmente, mas são presenças permanentes, uma saudade feita de pedaços de afeto que carrego comigo.
A saudade vai se espalhar pelas raízes da minha infância e adentra as paredes daquele velho mosteiro, o Mosteiro de São Bento, onde trabalhei por tantos anos, onde aprendi tanto sobre a vida, o silêncio e a alma humana. Os monges, com seu jeito calmo, me ensinaram uma paz que jamais reencontrei, mesmo nos momentos mais serenos da vida. Ao lado deles, vivi a disciplina, os pequenos rituais, aprendi a ouvir e a calar, e descobri uma fé profunda que ainda me acompanha.
E há o seminário… como esquecer? Minha turma, os amigos com quem divide sonhos e planos, a certeza de que transformaríamos o mundo. Jovens, éramos movidos por utopias, por um senso quase arrogante de imortalidade, como se o tempo fosse eternamente nosso. Estávamos prontos para mudar o que achamos que estava errado, querendo acreditar nas promessas que fazíamos a nós mesmos. Aqueles anos em Belo Horizonte foram os melhores em tantos aspectos, onde também concluí meus estudos e me apaixonei por essa cidade que, embora distante, mora em mim. Não eram só os estudos; eram as conversas longas e as tardes eternas, a namoradinha que me fazia rir, e a inocência de amar sem medos, sem pressa, como se o tempo fosse se estender infinitamente à nossa frente.
E assim, me deparo com o menino que fui, aquele garoto que ainda mora em algum lugar dentro de mim, cheio de sonhos e promessas que só o tempo pode diluir, mas nunca apagar. A saudade que sinto não é de coisas ou lugares. É a felicidade descomplicada de ser jovem, de acreditar em um mundo mais justo e perfeito, das lutas que se travaram dentro e fora, e da certeza de que tudo era eterno.
Hoje, olho para essa juventude que passou como um poema nostálgico, uma canção distante. É curioso que, mesmo sentindo falta de tudo isso, percebo que esse tempo, com toda a sua beleza e dor, ainda vive em mim, nas lembranças que guarda, nos sonhos que transformai e, especialmente, no silêncio que aprendi a respeitos.