Parlamentares do PT têm defendido nas redes sociais as compras parceladas sem juros e dito que os grandes bancos pressionam pelo fim da modalidade no país. Diferentes integrantes do partido pedem assinaturas para a campanha “Parcelo sim”, liderada por associações de comércio.
A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que os bancos lucram muito com os juros cobrados nas operações de crédito e afirmou que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apoia o lado dos bancos na discussão.
“Tá rolando uma forte pressão dos grandes bancos privados, apoiados por Campos Neto, para acabar com as compras parceladas sem juros no cartão de crédito ou limitar a apenas três vezes”, afirmou em suas redes sociais, nesta terça-feira (5).
“Altos juros e lucros enormes e ainda assim querem prejudicar o povo com essa ideia esdrúxula e cruel. Como o brasileiro mais pobre vai fazer? Isso só vai atrapalhar a economia e limitar o poder de compra da população”, completou.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) foi outro que criticou o possível fim do parcelado sem juros, enquanto Lindbergh Farias (PT-RJ) pediu para os seguidores apoiarem o movimento defendido por eles. Alencar Santana (PT-SP) acrescentou que os bancos brasileiros estão entre os menos taxados de todo o sistema financeiro internacional.
Procurada, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) não comentou as declarações até a publicação deste texto.
Nesta segunda-feira (4), em meio à discussão sobre os juros do rotativo do cartão de crédito e um eventual redesenho das compras parceladas, Campos Neto disse que não pretende fazer mudanças que afetem a capacidade aquisitiva da população brasileira.
“Em nenhum momento, o BC quer ou vai fazer algum tipo de mudança que influencie a capacidade das pessoas de comprar. Mas é importante a gente olhar o longo prazo. Nosso medo é estar fazendo algo que no curto prazo parece melhor, mas vai inibir o crescimento de crédito sustentável no longo prazo”, disse.
O chefe da instituição afirmou que há distorções que precisam ser resolvidas e defendeu uma ampla conversa com todos os participantes desse segmento.
“O parcelado sem juros ficou com um volume bastante grande, [o mercado de] cartões ficou com uma inadimplência alta. Acabou tendo juros muito altos no rotativo”, disse.
“Em uma indústria de desconto de fluxo de caixa, onde o lojista acaba aceitando um desconto grande para ter antecipação daquele fluxo porque ele aceitou fazer o parcelado grande, só que ele precisa do dinheiro para ter fluxo de caixa. Então, ele aceita um desconto. O desconto é feito a uma taxa maior do que seria a taxa de risco do emissor”, continuou.
A limitação do parcelamento de compras sem juros tem sido debatida no âmbito das negociações do setor para reduzir as altas taxas cobradas no rotativo do cartão de crédito. No entanto, há um impasse.
De um lado, os bancos querem a limitação do número de parcelas sem juros —defendem uma redução gradativa até chegar a três vezes. De outro, empresas independentes de maquininhas refutam a necessidade de mudança da modalidade, alegando que o parcelamento não é causa dos altos juros.
Desde outubro, o BC tem coordenado reuniões com representantes de bancos, adquirentes, cartões e varejo para chegar a uma solução por meio de autorregulação em relação ao juro do rotativo, conforme prevê a lei do Desenrola.
Atualmente, o BC analisa as propostas apresentadas pelos participantes e prepara um estudo próprio sobre o tema.