Política e Resenha

Carta a um amigo indignado sobre a política e o machismo velado

 

 

 

 

Prezado Teófilo,

Escrevo-lhe com o peito carregado de uma indignação que não consigo conter. Estamos assistindo, mais uma vez, a um espetáculo vergonhoso de desprezo pela vontade popular, uma afronta à democracia e à luta das mulheres por espaço e respeito na política.

Diga-me, Teófilo, o que há de pior do que um candidato que não sabe perder? É algo lamentável. Quando olho para a prefeita Sheila Lemos, vejo não apenas uma mulher em posição de liderança, mas um símbolo da resiliência diante de um sistema que insiste em rejeitar mulheres no poder. Lembro-me do que Dilma Rousseff enfrentou há dez anos. Não é questão de partido, nem de ideologia: é a força de um machismo cultural que despreza, descredibiliza e tenta apagar o que não se conforma aos seus moldes.

Sheila não apenas venceu nas urnas, mas está sendo desafiada a vencer na justiça e na mentalidade retrógrada que se recusa a aceitar uma mulher governando. E o mais revoltante, Teófilo, é que quem a desafia não tem o apoio do povo. Eles sabem disso. Não tiveram votos, não conquistaram corações, mas agarram-se às decisões de tribunais, como se a democracia fosse um simples jogo de palavras jurídicas.

Digo-lhe com toda sinceridade: não há humilhação maior do que querer governar um povo que já o rejeitou. O que move uma pessoa a lutar por um cargo que lhe foi negado pela maioria? É uma afronta ao próprio conceito de democracia, que nada mais é do que a expressão da vontade popular.

Eu teria vergonha, Teófilo, de dizer que sou prefeito graças a um juiz, e não à escolha do povo. Que representatividade há nisso? É trágico ver uma carreira que poderia ser construída com dignidade ser reduzida a essa mediocridade. É uma traição ao próprio espírito público, uma busca de poder pelo poder, desprovida de qualquer compromisso verdadeiro com aqueles que supostamente se pretende representar.

Por fim, meu amigo, deixo-te uma pergunta: até quando permitiremos que a justiça seja usada como palco para essa tragicomédia política? Até quando assistiremos ao desrespeito ao voto e à perpetuação do machismo disfarçado de legalismo?

Com o coração pesado, mas com a esperança de dias melhores,
Seu amigo indignado.