A política brasileira, mais uma vez, expõe suas ambiguidades e contradições. A Federação Brasil Esperança (FBE), composta pelos partidos PT, PCdoB e PV, decidiu assumir o papel de “paladinos da justiça”, movendo um processo contra o Partido Avante por suspeita de fraude à cota de gênero nas eleições municipais de 2024, em Vitória da Conquista. A questão levantada, sem dúvida, é legítima: toda suspeita de irregularidade eleitoral merece investigação rigorosa. Mas por que o mesmo rigor não é aplicado ao PSD, um de seus aliados, que também enfrenta acusações no processo eleitoral.
A audiência marcada para o dia 3 de dezembro, às 9 horas, promete apurar as acusações contra o Avante, que envolvem a possível candidatura fictícia de uma mulher que teria recebido apenas um voto e não realizado nenhuma ação de campanha. Caso as irregularidades sejam confirmadas, o mandato de Natan da Carroceria, vereador eleito pelo partido, poderá ser anulado, beneficiando diretamente a delegada Gabriela Garrido (PV), suplente e integrante da Federação que move a ação.
Porém, a imparcialidade da justiça eleitoral e a seletividade da FBE precisam ser questionadas. E se o mesmo critério fosse aplicado ao PSD, que também enfrenta acusações em processos eleitorais? Por que a FBE ignora os problemas de um partido aliado enquanto aponta o dedo para o adversário? Essa omissão enfraquece a credibilidade da denúncia e expõe as contradições de uma suposta “cruzada pela justiça”.
A cota de gênero é uma conquista essencial, destinada a garantir maior representatividade feminina na política. Mas não há dúvidas de que algumas legendas têm manipulado essa regra, apresentando candidatas “laranjas” apenas para atender à exigência legal. Isso deve ser combatido em todos os casos, sem distinções, independentemente de serem aliados ou adversários.
A FBE poderia demonstrar seu compromisso com a ética aplicando o mesmo zelo em investigar o PSD e outras legendas envolvidas em denúncias no âmbito eleitoral. Ao ignorar essas acusações, ela arrisca comprometer a essência de sua luta por transparência e justiça. Não se combate a fraude com seletividade; combate-se com coragem e coerência.
Esse processo não é apenas uma disputa partidária ou uma questão técnica da Justiça Eleitoral. Ele é um teste da maturidade política de nossas lideranças e instituições. Se a FBE realmente acredita na justiça, precisa agir de forma isenta, cobrando responsabilidade de todos os envolvidos, independentemente de alianças políticas.
A Justiça Eleitoral de Vitória da Conquista com certeza está olhando para estes dois casos que surgiram nesta eleição. Que a audiência de 3 de dezembro seja mais do que um espetáculo político, mas um exemplo de que a lei deve prevalecer sobre qualquer interesse ou jogo de poder. A verdadeira justiça não tolera seletividade; é universal. Que este princípio guie as decisões que estão por vir.