Política e Resenha

Até Quando? A Sociedade Brasileira e o Clamor por Justiça Diante da Violência Policial

 

 

A notícia de que policiais militares baianos estão sendo investigados por formação de grupo de extermínio e fraude processual é mais uma tragédia em uma longa lista de abusos que deveriam indignar profundamente a sociedade brasileira. Os casos de Salvador, Nova Soure e tantos outros revelam uma realidade perturbadora: a violência policial no Brasil não é uma anomalia isolada; é um sintoma de um problema estrutural, enraizado na cultura institucional e na forma como o Estado brasileiro trata seus cidadãos mais vulneráveis.

Resquícios de um Estado Autoritário

Quando um policial militar arremessa um cidadão de um viaduto ou executa adolescentes nas periferias, a cena remonta aos tribunais de exceção da ditadura civil-militar. Embora o Brasil tenha oficialmente rompido com aquele período sombrio de sua história, resquícios do autoritarismo continuam permeando nossas instituições de segurança pública. A brutalidade é muitas vezes legitimada por discursos que exaltam o “combate ao crime” sem ponderar os limites éticos e legais que deveriam nortear qualquer ação estatal.

Quem São as Vítimas?

Os números e os rostos da violência policial no Brasil apontam para uma direção clara: as vítimas estão nas periferias, em comunidades pobres, frequentemente jovens, negros e sem acesso a direitos básicos. Casos como os de Breno Murilo, Ítalo Mendes e o adolescente executado em Salvador são tragédias que se repetem porque a estrutura de nossa sociedade ainda tolera, ou mesmo incentiva, a brutalidade contra aqueles que considera descartáveis.

A sociedade brasileira precisa se perguntar: que tipo de polícia queremos? Será que estamos dispostos a aceitar uma força que, em vez de proteger, agride, humilha e mata?

A Questão Nacional da Violência Policial

Não é coincidência que os casos mais alarmantes ocorram em diferentes estados, de São Paulo à Bahia. Isso prova que o problema é nacional e sistêmico. Não basta punir os envolvidos individualmente; é preciso transformar a cultura policial que naturaliza a brutalidade e repensar as políticas de segurança pública em sua totalidade.

A criação de uma polícia que respeite a dignidade humana exige mudanças profundas:

  • Treinamento Ético e Humanitário: A formação policial deve priorizar os direitos humanos e o uso proporcional da força.
  • Mecanismos de Controle e Transparência: As corregedorias e ouvidorias devem ser independentes, fortalecendo a fiscalização e punindo abusos.
  • Investimento em Políticas de Prevenção: A violência nas periferias deve ser enfrentada com inclusão social, e não apenas com repressão.

A Indignação Deve Ser Constante

O sangue das vítimas da violência policial clama por justiça. Mas, mais do que isso, clama por coerência. Não podemos nos indignar apenas quando os abusos são flagrantes ou chegam às manchetes. A indignação precisa ser constante, pois é a vida humana – em São Paulo, na Bahia, ou em qualquer outro canto do Brasil – que está em jogo.

Vidas importam. Todas elas. Enquanto aceitarmos a violência policial como algo “normal” ou “necessário,” continuaremos cúmplices de um sistema que mata, agride e marginaliza. Que a sociedade brasileira, por fim, diga: não toleraremos mais.