Política e Resenha

ARTIGO – Fuga em Eunápolis: Um Reflexo da Falência do Sistema Prisional na Bahia

 

 

 

(Padre Carlos)

A fuga de 16 detenções do Conjunto Penal de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, não apenas escancara as fragilidades do sistema prisional estadual, mas também revela quanto o modelo de gestão penitenciária vigente está longe de ser eficiente ou seguro. Cinco dias após o crime, a ausência de recaptura dos foragidos, bem como a violência crescente envolvendo os envolvidos no resgate, intensificam a sensação de insegurança entre os cidadãos e expõem a desarticulação das políticas públicas expostas ao controlo da criminalidade.

Na última quinta-feira (12), o Conjunto Penal de Eunápolis foi palco de uma ousada fuga orquestrada por um grupo de criminosos armados. A ação foi meticulosamente planejada: os detentos perfuraram o teto da unidade, enquanto suas comparações cortavam as notas e atiravam contra os guardas. O foco era claro – resgatar Ednaldo Pereira Souza, conhecido como Dadá, chefe da facção Primeiro Comando de Eunápolis (PCE). Este não é um evento isolado; Ao contrário, faz parte de uma série de falhas recorrentes no sistema penitenciário baiano.

Desde 2016, o Conjunto Penal de Eunápolis já registrou três fugas, sendo a mais recente a mais audaciosa, não só pelo número de detentos envolvidos, mas também pela invasão de um grupo armado. A falta de uma resposta eficaz e rápida da segurança pública reforça uma narrativa de impunidade que só tende a crescer. A Polícia Civil, após a fuga, registrou a morte de três suspeitos de participação no resgate e dois outros foram presos. No entanto, os fugitivos continuam soltos, o que gera uma sensação de impotência na população e de falência do sistema.

Em um contexto mais amplo, a fuga de Eunápolis é sintoma de uma crise estrutural no sistema penitenciário da Bahia, onde o modelo de gestão, caracterizado pela administração privada, não se traduz em resultados efetivos. A Reviver Administração Prisional Privada LTDA, empresa responsável pela gestão da unidade, recebe milhões de reais do Estado, mas o que se observa são falhas sucessivas e uma insegurança crescente. O governo estadual, ao transferir a gestão dos presídios para a iniciativa privada, se desresponsabiliza pela garantia da segurança pública, deixando à mercê de interesses financeiros o bem-estar de toda a sociedade.

Dudu Ribeiro, coordenador da Rede de Observatórios de Segurança na Bahia, pontua que a demora na recaptura dos fugitivos está intimamente ligada à capacidade investigativa da Polícia Civil e da inteligência policial, com foco excessivo na Polícia Militar em detrimento de uma atuação mais estratégica. Esse desequilíbrio acaba comprometendo a aplicação do sistema de segurança, tornando-o reativo e não preventivo.

Além disso, o modelo adotado pelo governo estadual, que prioriza os recursos financeiros sobre a segurança real dos cidadãos, só agravará a crise. A falta de investimentos em tecnologia de monitoramento, a escassez de pessoal capacitado e a precariedade nas condições de trabalho dos servidores penitenciários são apenas alguns dos fatores que explicam as sucessivas falhas no sistema. O caso de Eunápolis é apenas mais um reflexo de uma realidade que se agrava a cada dia, resultando em uma espiral de violência que escapa ao controle.

No fundo, a fuga de 16 detenções não é apenas uma questão de segurança pública, mas um reflexo da falência de um modelo de gestão que desconsidera a realidade das facções criminosas e a organização que permeia os sistemas prisionais. O sistema penitenciário não pode ser encarado como uma simples máquina de encarcerar, mas como um lugar de reintegração e controle social. Caso contrário, seguiremos observando ao fortalecimento das facções e ao colapso da ordem pública.

A recaptura dos fugitivos de Eunápolis é urgente, mas ela também deve servir como um ponto de reflexão. A política penitenciária baiana precisa de uma reformulação profunda. A segurança da população não pode ser comprometida por interesses financeiros e fraudes operacionais. A sociedade clama por um sistema mais eficiente, transparente e, acima de tudo, justo.