É com profunda inquietação que observamos mais um capítulo da conhecida novela da corrupção brasileira se desenrolar diante de nossos olhos. A recusa do vereador Francisco Nascimento e do empresário Marcos Moura em aceitar o acordo de delação premiada na Operação Overclean não é apenas uma decisão processual – é um sintoma de um mal muito mais profundo que corrói nossa República.
O que mais entristece não é apenas a suspeita dos crimes investigados, mas a aparente certeza da impunidade que permite que investigados prefiram o silêncio à colaboração com a justiça. Quando um vereador de uma cidade do interior da Bahia e um empresário conhecido como “Rei do Lixo” se sentem confortáveis para recusar acordos de delação, é preciso questionar: que garantias eles têm? Que estruturas de poder os protegem?
A estratégia de “esperar a operação ganhar mais corpo” soa como uma forma velada de ganhar tempo, possivelmente aguardando que as engrenagens do poder trabalhem a seu favor. É um padrão que nós, cidadãos brasileiros, conhecemos bem demais: postergar, silenciar, aguardar que o tempo enfraqueça as investigações e que a opinião pública se distraia com o próximo escândalo.
Mas há algo diferente no ar desta vez. A sociedade brasileira está cada vez mais atenta, mais consciente e menos disposta a aceitar o pacto do silêncio que por tanto tempo protegeu os que se locupletam do dinheiro público. As redes sociais, a imprensa investigativa e uma nova geração de servidores públicos comprometidos com a verdade têm tornado cada vez mais difícil varrer a sujeira para baixo do tapete.
É fundamental que nós, cidadãos, mantenhamos a pressão por transparência e justiça. Que exijamos de nossos representantes no Ministério Público e no Judiciário a continuidade rigorosa das investigações. Que demandemos do Congresso Nacional o fortalecimento das leis anticorrupção e dos mecanismos de controle.
O silêncio dos investigados pode ser ensurdecedor, mas nossa voz pela justiça precisa ser ainda mais alta. A recusa em colaborar com as investigações não pode ser interpretada como um direito ao acobertamento. É hora de transformar nossa indignação em ação concreta, seja através do voto consciente, do acompanhamento ativo das investigações ou da pressão constante por reformas que fortaleçam nossas instituições de controle.
O pacto do silêncio só sobrevive enquanto permitimos. É hora de quebrá-lo, não com gritaria inconsequente, mas com a força serena e inabalável da cidadania ativa. O Brasil que queremos não tem espaço para acordos de bastidores nem para a cumplicidade do silêncio.