Na dança perpétua do universo, somos meros espectadores de um espetáculo que não cessa: a inexorável marcha do tempo. Como grãos de areia escorrendo entre os dedos, cada momento que tentamos segurar escapa, transformando presente em passado, futuro em presente, num ciclo infinito de renovação e morte.
Caetano Veloso, em sua sabedoria poética, personifica o tempo como um “senhor bonito”, numa tentativa quase infantil de domesticar o indomável. Fazemos pedidos ao tempo, como crianças suplicando por mais cinco minutos de brincadeira antes de dormir. Mas o tempo, em sua implacável jornada, não atende a súplicas.
A natureza nos ensina diariamente sobre a impermanência: a flor que desabrocha pela manhã murcha ao entardecer; a juventude que hoje nos preenche de vigor gradualmente cede lugar à maturidade. No entanto, resistimos a esta lição fundamental. Construímos monumentos, criamos obras, geramos filhos – tudo numa tentativa de deixar nossa marca, de transcender nossa própria finitude.
Existe uma ironia profunda em nossa relação com o tempo: ele é infinito em sua totalidade, mas fragmentado em nossa experiência. Cada “agora” é único e irrecuperável. O paradoxo se apresenta: como pode algo infinito estar sempre passando? Como pode o eterno ser composto de momentos finitos?
Na intersecção entre filosofia e teologia, encontramos diferentes tentativas de resposta. Alguns buscam conforto na ideia de um Deus que transcende o tempo, outros na própria aceitação da impermanência como caminho para a libertação. Mas talquer que seja a perspectiva, uma verdade permanece: nossa resistência à transitoriedade é a fonte de muito de nosso sofrimento.
Talvez a sabedoria não esteja em tentar ser eterno, mas em aceitar nosso papel transitório neste grande teatro do universo. Como atores que entram e saem de cena, nossa beleza reside precisamente na brevidade de nossa apresentação. O tempo, este “senhor bonito”, não é nosso adversário, mas o próprio palco onde nossa existência se desenrola.
E assim, entre meta-física e poesia, entre o desejo de eternidade e a realidade do efêmero, seguimos nossa jornada. O tempo continua seu curso, indiferente aos nossos anseios, enquanto nós, eternos aprendizes da arte de viver, tentamos fazer paz com nossa própria transitoriedade.