Hoje, 8 de janeiro de 2025, olhamos para trás e refletimos sobre o dia que abalou os alicerces da democracia brasileira: os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Um evento que não foi fruto de uma explosão espontânea de descontentamento, mas sim de uma articulação orquestrada com raízes profundas e multifacetadas.
Para que um golpe de Estado seja efetivamente planejado, é necessário que se construam bases em quatro vertentes fundamentais: intelectual, militar, política e financeira. E é justamente nessas dimensões que precisamos buscar os verdadeiros arquitetos dessa tentativa de usurpar o Estado Democrático de Direito. Quem são essas pessoas? Quando a justiça alcançará aqueles que movimentaram as peças desse jogo? Essas são as questões centrais que permanecem sem resposta definitiva.
O Supremo e a Resposta Judicial
O Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, tem feito um trabalho incansável ao longo dos últimos dois anos. Até agora, 371 pessoas foram condenadas, das mais de duas mil investigadas. Entre os condenados, 225 tiveram suas ações classificadas como crimes graves, recebendo penas que variam de três a 17 anos e seis meses de prisão. As condenações abrangem crimes como tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa e deterioração de patrimônio público.
No entanto, apesar de quase 900 réus responsabilizados, é inegável que a maioria deles são meros peões em um tabuleiro controlado por interesses maiores. O Brasil exige respostas mais amplas e ações mais incisivas. Quem financiou o transporte, a logística e a disseminação de desinformação? Quais redes de apoio garantiram a articulação política e militar? Essas perguntas ainda carecem de investigações mais aprofundadas.
O Papel da Elite Intelectual e Financeira
Não se orquestra um ataque de tal magnitude sem um suporte ideológico bem definido. Figuras intelectuais, acadêmicos e comunicadores contribuíram para a normalização do discurso antidemocrático, criando uma atmosfera de negação das instituições. Além disso, a elite financeira desempenhou um papel crucial, direta ou indiretamente, no financiamento das ações.
As recentes revelações sobre movimentações bancárias suspeitas e a evasão de capitais indicam que há muito a ser explorado. Quem pagou as contas? Quem arcou com as caravanas que levaram milhares de manifestantes a Brasília? A justiça não pode parar nos executores; é preciso alcançar os financiadores e idealizadores.
A Fuga e a Impunidade
De acordo com o levantamento mais recente, pelo menos 122 pessoas envolvidas nos ataques são consideradas foragidas. Dessas, 61 tiveram pedidos de extradição encaminhados a outros países. Muitos romperam tornozeleiras eletrônicas e fugiram do Brasil, demonstrando que os tentáculos dessa articulação têm alcance internacional. É essencial que a diplomacia brasileira e os órgãos internacionais colaborem para trazer esses indivíduos à justiça.
Educação para a Democracia
Uma das iniciativas mais interessantes nos acordos feitos com o Ministério Público Federal é a obrigatoriedade de participação em cursos presenciais sobre democracia. Essa medida, embora simbólica, reflete a necessidade de reeducar uma parcela da sociedade que perdeu de vista os valores democráticos. Multas e serviços comunitários somaram mais de R$ 1,7 milhão, mas a conscientização talvez seja o maior legado desses processos.
Conclusão
Dois anos depois, o Brasil ainda enfrenta o desafio de entender e desmontar a engrenagem que possibilitou os ataques de 8 de janeiro. O sistema de justiça avança, mas as questões estruturais permanecem: quando veremos os verdadeiros articuladores serem responsabilizados? Quando a justiça alcançará aqueles que, nos bastidores, manipularam as peças? Não podemos nos dar ao luxo de tratar esses eventos como simples episódios do passado. Eles são um alerta constante de que a democracia precisa ser defendida todos os dias, em todas as frentes.
O dia 8 de janeiro de 2023 ficará marcado como um lembrete sombrio, mas também como um ponto de inflexão. Que a busca pela verdade e pela justiça continue, até que todos, desde os peões até os reis e rainhas desse tabuleiro, sejam responsabilizados.