Como articulista, carrego comigo a convicção de que minha geração compreendia a profundidade de cada palavra e sabia escrever com a alma. Nascemos numa era em que a escrita era um ofício artesanal. Não havia a rapidez do clique, nem a facilidade do “enviar”. Escrever era quase um ato cerimonial, algo que demandava tempo, reflexão e, sobretudo, paixão.
Lembro-me do tempo em que o papel era a extensão do pensamento e o mimeógrafo, a ferramenta revolucionária que nos fazia sonhar com a transformação social. No movimento estudantil, cada manifesto carregava o peso das nossas esperanças. Não se tratava apenas de lançar palavras ao vento, mas de moldá-las como se fossem armas de resistência e construção. As reuniões, muitas vezes clandestinas, eram a catedral onde nossas ideias se erguiam e se entrelaçavam em prol de um ideal comum.
Hoje, os tempos são outros. As cartas cederam espaço às mensagens instantâneas, os jornais físicos foram substituídos por blogs e sites, e as reuniões presenciais deram lugar às salas virtuais. Mas a essência permanece. A ansiedade que nos consumia enquanto esperávamos a resposta de uma carta é a mesma que hoje invade o coração ao aguardar uma resposta digital. A diferença está na superficialidade imposta pela velocidade da modernidade. Escrevemos mais, mas sentimos menos.
Enquanto vejo as novas gerações de articulistas e cronistas se adaptarem à fluidez da comunicação digital, sinto que algo se perdeu pelo caminho: a reflexão profunda, o sabor de ponderar cada frase, o compromisso com a mensagem transmitida. Não é apenas saudosismo. É a certeza de que, ao trocarmos a solidez do papel pela efemeridade da tela, deixamos de lado o tempo necessário para digerir as palavras.
No entanto, há esperança. A essência do bom articulista não desaparece, apenas se transforma. A urgência de comunicar, de provocar reflexão e de tocar o outro ainda está presente, mesmo que os meios tenham mudado. É possível, sim, unir a tradição de uma escrita cuidadosa à instantaneidade da era digital. Esse é o desafio que a minha geração pode ensinar às novas: não perder o sentido de profundidade e significado em meio à avalanche de informações.
Que a palavra, ainda que digital, continue sendo um ato de resistência, de transformação e, acima de tudo, de humanidade. Que as novas gerações compreendam que a escrita não é apenas a arte de combinar palavras, mas de tocar almas. Esse é o legado que minha geração, que escreveu com tinta, suor e esperança, tem a oferecer a um mundo que escreve com pressa e cliques.
Escrever, afinal, é resistir ao esquecimento e acreditar no futuro. Mesmo que esse futuro não chegue em forma de carta, mas de mensagem instantânea.