Política e Resenha

Vitória da Conquista e o Desafio da Interiorização Industrial: Por Que a Agenda da FIEB Importa?

 

 

 

Enquanto o Brasil debate como superar a concentração econômica nas metrópoles, um encontro em Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, oferece pistas concretas de que a resposta pode estar na articulação entre setor privado, governo e instituições de fomento. A reunião da Agenda Estratégica da Indústria 2025, promovida pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), não foi apenas mais um evento protocolaresse: foi um manifesto prático sobre como desenvolver regiões interioranas em um país que insiste em crescer de forma desigual.

Interiorizar Não É Só Chegar, É Ficar

Desde 2014, a FIEB tem ampliado sua presença para além de Salvador, mas o encontro desta terça-feira (17) em Vitória da Conquista revela uma mudança de postura. Não se trata mais de “visitar” municípios do interior, mas de criar raízes. Carlos Henrique Passos, presidente da entidade, deixou claro: “Estamos de volta agora, trazendo resultados”. A mensagem é clara: interiorização sem continuidade é apenas turismo corporativo.

O caso do Distrito Industrial de Vitória da Conquista ilustra essa estratégia. A FIEB não apenas ouviu demandas por infraestrutura e segurança contra invasões, mas estruturou um fórum permanente com associações locais, como a AINVIC, para pressionar o governo estadual por melhorias. É um modelo que substitui a reclamação isolada pela ação coletiva — algo raro em regiões onde a indústria muitas vezes se sente órfã de representação.

Educação e Infraestrutura: Os Pilares Esquecidos

O encontro também destacou dois gargalos históricos do Brasil: formação profissional e logística precária. Enquanto o SENAI e o SESI apresentaram iniciativas de qualificação, a prefeita Sheila Lemos reforçou a necessidade de infraestrutura “sensível à indústria”. Não por acaso: Vitória da Conquista, embora seja um polo regional, ainda sofre com estradas deterioradas e falta de conectividade, problemas que encarecem a produção e isolam empresas.

Aqui, a FIEB acerta ao integrar educação técnica e diálogo com o poder público. Formar trabalhadores qualificados é inútil se as fábricas não conseguem escoar produção ou operar em áreas inseguras. A lição é que desenvolvimento industrial exige sinergia entre políticas públicas e investimento privado — algo que o Brasil teima em tratar como temas desconexos.

O Sonho (Possível) de uma Região Metropolitana

Um dos momentos mais simbólicos do evento foi o pedido do presidente da Câmara Municipal, Ivan Cordeiro, por apoio à criação da Região Metropolitana de Vitória da Conquista. A proposta, em tramitação na Assembleia Legislativa, não é apenas burocracia: é um reconhecimento de que o município, com seus 350 mil habitantes, já exerce influência econômica em dezenas de cidades vizinhas.

Metropolizar o interior pode parecer contraditório, mas faz sentido. Regiões integradas atraem investimentos, compartilham recursos e fortalecem cadeias produtivas. Para a FIEB, apoiar essa agenda é garantir que a industrialização não seja um projeto isolado, mas um ecossistema conectado.

O Que Falta? Medir o Impacto Real

Apesar dos avanços, há desafios à vista. A FIEB fala em “resultados”, mas como mensurá-los? Quantos empregos foram criados? Qual o retorno econômico das melhorias nos distritos industriais? A sociedade precisa de métricas claras para não transformar boas intenções em retórica vazia.

Além disso, é preciso cuidado com a romantização da interiorização. Levar indústrias para o interior não resolve problemas crônicos se não houver planejamento urbano, sustentabilidade ambiental e inclusão social. A prefeita Sheila Lemos acertou ao dizer que o Sistema FIEB “serve não só à indústria, mas a toda a comunidade”. O risco, porém, é que o crescimento industrial reproduza nas cidades do interior as mesmas desigualdades das grandes capitais.

Conclusão: Um Laboratório para o Brasil

Vitória da Conquista está se tornando um laboratório de desenvolvimento regional. Se a Agenda 2025 da FIEB der certo, mostrará que é possível industrializar o interior sem depender de megaprojetos estatais ou de incentivos fiscais efêmeros. O segredo parece simples: escutar empresários, pressionar por políticas públicas e, acima de tudo, agir em rede.

Enquanto o país discute pacotes de austeridade ou reformas tributárias, iniciativas como essa lembram que o desenvolvimento se constrói no chão das fábricas, nas reuniões de associações e na coragem de prefeitos e industriais que apostam no interior. A pergunta que fica é: quantas outras “Vitórias da Conquista” o Brasil está perdendo por falta de articulação?