Política e Resenha

Democracia em Ação: O Pragmatismo que Conduz Vitória da Conquista

 

 

 

A política, quando exercida com respeito e visão coletiva, é mais do que um jogo de poder: é a arte de transformar divergências em pontes. Essa foi a lição que o vereador Ivan Cordeiro, presidente da Câmara Municipal de Vitória da Conquista, deixou claro em sua participação no programa Agito Geral, do comunicador Massinha. Em um cenário nacional marcado pela polarização, a fala do líder legislativo revelou um caminho possível — e necessário — para a gestão pública: o diálogo acima das ideologias.

 

A Comunicação como Alicerce da Democracia

 

Um dos primeiros pontos destacados por Ivan Cordeiro foi a aposta em uma comunicação “mais próxima da população”, liderada pelo jornalista Fábio Sena, novo diretor de comunicação da Casa. Em um momento em que a desconfiança nas instituições é global, investir em transparência não é apenas estratégico, mas um dever ético. A iniciativa de levar alunos da rede municipal para conhecer o memorial da Câmara, por exemplo, simboliza um esforço para resgatar a história e aproximar cidadãos do Legislativo. Como lembrou o vereador, “preservar a memória é garantir que as futuras gerações entendam o valor da democracia”.

 

Mesa Diretora: Pluralidade como Fortaleza

 

A eleição da mesa diretora da Câmara foi um tema central. Ivan enfatizou que, embora partidos de esquerda, direita e centro compusessem a chapa vencedora, o processo não diluiu identidades ideológicas. “Cada vereador mantém suas bandeiras, mas entendemos que, na gestão da Casa, prevalece o interesse público”, afirmou. Essa postura reflete uma maturidade política rara: a capacidade de separar a administração técnica das disputas partidárias. A inclusão de quatro mulheres na Câmara — fato histórico na cidade — e a criação de uma bancada feminina reforçam que representatividade e pragmatismo podem coexistir.

 

Infraestrutura: Uma Agenda que Unifica

 

Quando o debate migrou para os desafios práticos da cidade, como a duplicação da BR-116 e a criação da Região Metropolitana do Sudoeste Baiano, o tom do vereador foi ainda mais enfático: “Essas pautas não têm ideologia”. Ivan relatou reuniões com deputados de diferentes espectros políticos, como Fabrício e José Raimundo, para pressionar por soluções. O projeto metropolitano, que envolve 37 municípios e mais de 1 milhão de habitantes, é emblemático. Não se trata de uma disputa local, mas de um planejamento estratégico que exige cooperação entre esferas de poder. Como destacou, “quem ama Conquista deve apoiar iniciativas que elevem a região, não importa quem as propôs”.

 

O Legislativo e o Executivo: Harmonia sem Submissão

 

A relação com a prefeita Sheila Lemos (UB) também foi abordada. Ivan deixou claro que, embora haja sintonia em projetos como a reforma administrativa, a Câmara manterá seu papel fiscalizador. “Respeitamos a divisão dos poderes”, disse, ao mesmo tempo que elogiou a nomeação do ex-vereador Chico Estrela como assessor de ligação entre Executivo e Legislativo: “É uma ponte para agilizar demandas, não um atalho para blindar o governo”. Essa postura equilibrada — de colaboração sem ingenuidade — é o que impede que a política descambe para o fisiologismo ou o antagonismo estéril.

 

Desafios em 2025: Polarização e o Centro como Alternativa

 

Ao ser questionado sobre o cenário político nacional, Ivan reconheceu a polarização entre Lula e Bolsonaro, mas defendeu o fortalecimento do centro como espaço de mediação: “A democracia precisa de debate, mas também de propostas concretas”. Para ele, o Legislativo de Conquista pode servir de exemplo: “Mostramos que é possível ter divergências e ainda assim votar projetos em conjunto”.

 

Conclusão: O Legado que Fica

 

No final da entrevista, ao mencionar o tombamento do antigo prédio da Câmara como patrimônio cultural, Ivan Cordeiro sintetizou sua filosofia: “Memória e progresso não são inimigos”. Seu discurso não nega as diferenças ideológicas — afinal, elas são o oxigênio da democracia —, mas insiste em um ponto crucial: há causas maiores que as siglas partidárias.

Em um país onde a política muitas vezes se reduz a brigas de ego, Vitória da Conquista nos lembra que é possível governar com seriedade. Resta torcer para que outras casas legislativas olhem para o exemplo conquistense e entendam que, no tabuleiro da democracia, as peças só avançam quando jogadores aprendem a mover-se juntos.