Não há como negar que a política baiana vive um momento de intensa articulação e expectativa. A montagem da chapa majoritária governamental para as eleições de 2026 já se tornou o centro das discussões, revelando ambições e estratégias que podem redefinir os rumores do estado. No epicentro dessa turbilhão é o Partido dos Trabalhadores (PT), que não esconde o desejo de lançar uma chapa puro-sangue com três nomes históricos do partido: Jerônimo Rodrigues para o governo, Jaques Wagner para o Senado e Rui Costa, atual ministro, também pleiteando uma vaga na Casa Alta do Congresso Nacional. Mas será esse o desenho ideal ou estamos diante de um projeto que pode causar incompatibilidade sanguínea dentro do próprio grupo aliado?
A ideia de consolidar uma chapa majoritária composta exclusivamente por figuras de peso do PT tem um apelo emocional e simbólico indiscutível. Afinal, estamos falando de três governadores que marcaram a história recente da Bahia com gestões que, independentemente de avaliações pessoais, deixaram marcas profundas no estado. Jerônimo Rodrigues, o atual governador, busca consolidar sua imagem e garantir a reeleição; Jaques Wagner, experiência política e ex-governador, almeja retornar ao Senado; e Rui Costa, cuja popularidade ainda ecoa entre os baianos, sonha em ampliar seu protagonismo nacional. Essa tríade representa o ápice do poder petista na Bahia, mas também expõe fragilidades que podem comprometer o projeto maior.
O principal ponto de tensão reside na disputa pelo Senado. Enquanto o PT insiste em dois nomes para a vaga – Jaques Wagner e Rui Costa –, Angelo Coronel, liderança estadual do PSD, surge como um obstáculo significativo. Coronel tem subido o tom nos bastidores, cena que não aceitará ser rifado do processo sem fato. Sua postura reflete uma preocupação legítima: a exclusão de aliados históricos pode gerar mal-estar e até mesmo rachar a base governamental. Além disso, outros partidos como o MDB e o PP, que têm interesse em embarcar no “trem da alegria”, observam atentamente os movimentos do PT, avaliando se vale a pena permanecer na coalizão ou buscar alternativas mais vantajosas.
Aqui reside o paradoxo do projeto petista. Por um lado, a estratégia de lançar uma chapa puro-sangue é lógica. Ela visa consolidar o legado do partido e evitar divisões internas que possam prejudicar a candidatura. Por outro lado, ela ignora uma máxima fundamental da política: a arte da negociação e a necessidade de construir pontes. Ao insistir em ocupar todas as vagas majoritárias, o PT corre o risco de alienar aliados importantes e criar um ambiente de ressentimento que pode culminar em derrotas eleitorais. Como bem sabemos, a política é feita de alianças, e ninguém governa sozinho
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Outro fator que merece atenção é a percepção pública. Embora os nomes apresentados pelo PT tenham relevância, há um limite para a saturação de figuras políticas tradicionais. Orado eleito brasileiro, especialmente após anos de instabilidade econômica e social, tem demonstrado um crescente apetite por renovação e diversidade nas chapas. Isso fica evidente quando observamos tendências globais que apontam para a valorização de novas lideranças e propostas inovadoras
. Nesse sentido, apostar em uma chapa puro-sangue pode subir como um retrocesso, afastando setores da população que buscam alternativas frescas e menos associadas ao establishment político.
Além disso, o cenário nacional também deve ser considerado. Com projeções demonstram um crescimento global projetado de 3,3% para 2025 e 2026, abaixo da média histórica, a economia continuará sendo uma preocupação central para os investidores
. A Bahia, inserida nesse contexto, precisa de lideranças capazes de soluções articulares criativas para os desafios econômicos e sociais. Uma chapa focada em nomes do passado pode ser vista como desconectada das demandas atuais, especialmente por parte dos jovens e das classes emergentes.
Portanto, o que parece ser a “chapa dos sonhos” pode, na verdade, transformar-se em um pesadelo para o PT e aliado dos seus. Para evitar um racha no projeto, é fundamental que o partido adote uma postura mais inclusiva, abrindo espaço para outras forças políticas e promovendo um diálogo amplo com a sociedade. Afinal, o sucesso eleitoral não depende apenas de nomes conhecidos, mas de uma construção coletiva que reflete os anseios e as expectativas do povo baiano.
Em vez de insistir numa chapa puro-sangue, o PT poderia explorar alternativas que equilibrem experiência e renovação, tradição e inovação. Isso não significa abrir a mão de seus principais líderes, mas sim reconhecer que a política é um jogo de cooperação, onde o consenso e a boa convivência são tão importantes quanto às ambições individuais.
Se o PT conseguir superar essas barreiras e construir uma aliança sólida, poderá sair fortalecido para a disputa de 2026. Caso contrário, o sonho de uma chapa majoritária governamental pode se transformar em um pesadelo de incompatibilidade humana, colocando em risco não apenas as eleições, mas também o futuro do próprio partido na Bahia.
Esse artigo de opinião busca contribuir para o debate, destacando a importância de uma visão estratégica e colaborativa na política. Afinal, como diriam os grandes articulistas, o sucesso de uma campanha não está apenas nos nomes que a compõem, mas na capacidade de unir diferentes vozes em torno de um projeto comum
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