Política e Resenha

Ninguém é Bom Sozinho”: A Força da Fé e da Comunidade em Tempos de Queda

 

 

 

Há momentos em que a vida nos coloca de joelhos não para nos humilhar, mas para nos lembrar de que somos humanos — frágeis, interdependentes, necessitados de mãos estendidas. Foi essa lição que Lucas Batista nos ofereceu ao compartilhar publicamente sua jornada de recuperação após um acidente doméstico. Seu relato, mais que um agradecimento, é um manifesto sobre o poder da fé coletiva e a beleza de reconhecer: ninguém se levanta sozinho.

A Queda que Ensina a Olhar Para Cima

O acidente foi simples e brutal: um escorregão no banheiro, um rosto atingido, uma boca machucada. Cenas comuns, que poderiam passar despercebidas, não fossem as palavras que seguiram. Ao expor suas feridas e sua gratidão, o autor da mensagem fez mais que narrar um episódio pessoal. Ele nos convidou a refletir sobre quantas vezes tropeçamos em silêncio, com vergonha de admitir que precisamos de ajuda.

Sua história ecoa a de milhões de brasileiros que, diariamente, enfrentam quedas literais e metafóricas. A diferença está na forma como ele reagiu: não com autopiedade, mas com gratidão transformadora. Ao agradecer cada prece e mensagem recebida, ele nos lembra que a vulnerabilidade, quando compartilhada, vira ponte — não abismo.

A Mulher do Poço e a Água Nova: Fé que Renova, Não que Isola

A referência à passagem bíblica da Mulher Samaritana (João 4:1-42) não é casual. Assim como ela, que encontrou em Jesus não um julgamento, mas uma fonte de água viva, Lucas vê em sua queda uma oportunidade de renascimento. “Jesus está trazendo água nova na minha vida”.

Aqui, a fé não é apresentada como escape mágico das dores, mas como ferramenta de reconstrução. Água nova simboliza renovação prática: cuidar das feridas, responder uma a uma as mensagens de apoio, confiar que os dias difíceis não são o fim da história. É uma espiritualidade enraizada na ação, não na passividade.

Vitória da Conquista: Onde a Comunidade é Remédio

Não por acaso, essa história nasce em Vitória da Conquista. Cidade marcada pela resistência do sertão, ela carrega em seu DNA a cultura da solidariedade militante. Aqui, como em todo o Nordeste, sabe-se que uma cerca quebrada é consertada pelos vizinhos, que um prato de comida atravessa ruas para chegar a quem precisa, e que as preces coletivas são tão importantes quanto os remédios.

Ao agradecer publicamente, Lucas honra essa tradição. Suas palavras — “ninguém é bom sozinho” — poderiam ser o lema não oficial da cidade. Elas nos convidam a perguntar: quantas vezes, em nosso orgulho, deixamos de estender a mão ou de pedir ajuda?

A Revolução das Pequenas Gentilezas

Em um mundo obcecado por conquistas individuais — likes, seguidores, cargos —, a mensagem do Negão das Bateias é um antídoto. Ele não celebra a superação solitária, mas a redenção compartilhada. Cada mensagem que recebeu foi um fio tecendo a rede que o impediu de desabar.

Isso nos desafia a repensar nosso papel na vida alheia. Quantas vezes subestimamos o poder de um “estou aqui”, de um “conte comigo”? Como escreveu o poeta Thiago de Mello, “Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar”. Nossa canção, porém, não precisa ser solo. Pode ser um coral.

Conclusão: Levantar-se é Coletivo

A mensagem do nosso Amigo Irmão não é sobre um acidente. É sobre resiliência. Não é sobre fé alienante, mas sobre fé que mobiliza. Acima de tudo, é um lembrete: cair faz parte, mas levantar-se é escolha — e essa escolha é sempre mais fácil quando feita de mãos dadas.

Que seu exemplo ecoe além das redes sociais. Que inspire Vitória da Conquista a cultivar praças onde as pessoas se encontram não só para festejar, mas para se apoiar. Que nos lembre, sempre, que a maior vitória não é a que conquistamos sozinhos, mas a que construímos juntos.

Como ele bem disse: “Juntos haveremos de fazer a diferença”. Que assim seja.

 

Padre Carlos