Política e Resenha

Prémio Pessoa para o cardeal que escreve poemas de amor

 

José Tolentino de Mendonça, cardeal, poeta e agora distinguido com o Prémio Pessoa na 37.ª edição, demonstra a versatilidade de sua trajetória, unindo a espiritualidade à poesia. Este prémio, que reconhece a contribuição significativa de personalidades portuguesas na vida cultural e científica, destaca não apenas sua atuação religiosa, mas também sua expressão literária única.

Ao contemplar a obra poética de Tolentino de Mendonça, encontramos uma celebração do amor em suas diversas formas e nuances. “Ainda espero o amor/como no ringue o lutador caído/espera a sala vazia” – versos que revelam uma busca constante e paciente, semelhante à espera de um lutador após o combate. Este reconhecimento, concedido por um júri composto por figuras proeminentes, destaca a relevância da expressão poética na vida contemporânea.

Nascido há 58 anos, Tolentino de Mendonça carrega consigo uma bagagem rica, desde seus anos iniciais em Angola até sua atuação nos altos escalões do Vaticano. Sua jornada teológica, marcada por cargos de destaque e, mais recentemente, como arcebispo, revela um compromisso sólido com sua fé e uma dedicação à cultura e educação.

A inserção de Tolentino de Mendonça no mundo cultural não se limita ao âmbito religioso. Sua liderança na celebração do 50.º aniversário da Coleção de Arte Moderna dos Museus do Vaticano, que reuniu representantes do mundo cultural global, destaca sua visão abrangente e sua capacidade de promover o diálogo entre diferentes expressões artísticas.

A dualidade entre seu papel religioso e literário é fascinante. Sob sua liderança, o Dicastério da Cultura e Educação se tornou um ponto de encontro entre o Papa Francisco e personalidades culturais, uma celebração que ecoou nas vozes de artistas lusófonos como Vhils, Caetano Veloso e Joana Vasconcelos.

A poesia de Tolentino de Mendonça não é apenas uma expressão estética; é uma forma de dissidência, uma profissão de incredulidade na omnipotência do visível. Seus versos são um convite para a reflexão, um chamado para pernoitar na solidão dos bosques e explorar a impureza que o mundo muitas vezes repudia.

Além disso, sua contribuição literária abrange não apenas a poesia, mas também ensaios filosóficos e pastorais, mostrando a amplitude de sua reflexão sobre temas como sexualidade, espiritualidade e interpretação bíblica.

Ao receber o Prémio Pessoa, Tolentino de Mendonça reforça a importância da experiência religiosa na afirmação da dignidade humana. Sua defesa da liberdade religiosa como um aspecto inseparável da liberdade geral destaca sua posição única como ponte entre o divino e o humano.

Em resumo, o Prémio Pessoa para José Tolentino de Mendonça é uma celebração não apenas da sua contribuição para a cultura e ciência, mas também um reconhecimento do poder transformador da poesia e da espiritualidade em um mundo cada vez mais complexo.

(Padre Carlos)