Política e Resenha

Igreja de São Miguel: Um Patrimônio em Risco de Desabamento

 

 

 

 

A poucos passos da icônica Igreja de São Francisco, outra tragédia se desenrola nas sombras do patrimônio histórico de Salvador. A Igreja de São Miguel, localizada na Rua Frei Vicente, enfrenta um estado crítico após o início do seu desabamento em 2015. Desde então, o local permaneceu interditado, e a deterioração só se intensificou ao longo dos anos.

Um Desastre em Andamento

O teto da Igreja de São Miguel começou a ruir progressivamente, resultando em uma interdição oficial pela Prefeitura em 2019, quando a circulação de pessoas foi proibida devido ao risco iminente de acidentes. Em comparação com imagens de 2022, as fotografias mais recentes, tiradas em 12 de fevereiro de 2025, revelam a gravidade da situação: escombros cobrem o chão, e a estrutura do altar que sustentava a cruz principal desapareceu, deixando um buraco crescente no telhado.

Jayme Baleeiro, presidente da Ordem Terceira de São Francisco, expressa sua preocupação com a falta de proteção no local, onde os efeitos do sol e da chuva agravam ainda mais os danos. A lápide que marca o sepultamento de Francisco Gomes do Rego, doador da igreja em 1744, está agora completamente coberta, simbolizando a perda de um legado histórico.

Comparações Alarmantes

Assim como a Igreja de São Miguel, a Igreja de São Francisco também atravessou um momento trágico. No dia 5 de fevereiro de 2025, o teto da Igreja de São Francisco desabou, resultando na morte de uma turista de 26 anos. Ambas as instituições enfrentam desafios semelhantes em termos de manutenção e recuperação de suas estruturas históricas.

Após o recente desabamento, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) interditaram outras sete igrejas na cidade, revelando um panorama alarmante de riscos estruturais em patrimônios tombados.

Desafios Financeiros

A recuperação de patrimônio histórico é um processo financeiramente desafiador. O restauro dos azulejos da Igreja de São Francisco custou R$4,2 milhões, e a Igreja de São Miguel solicitou patrocínio em 2020, mas teve seu pedido negado devido à falta de recursos para elaborar projetos de engenharia necessários para a intervenção.

Baleeiro destaca que, para restaurar um patrimônio tombado, é preciso autorização do Iphan, o que impõe restrições significativas. “Para solicitar recursos, você tem que ter recursos”, lamenta, enfatizando a falta de meios para garantir a preservação.

O Papel da Arquidiocese

A Arquidiocese de Salvador enfrenta dificuldades para apoiar todas as igrejas sob sua responsabilidade. Padre Edílson Bispo, membro da comissão responsável pelos bens culturais, afirma que as intervenções exigem projetos específicos, que são demorados e custosos. A escassez de recursos da Arquidiocese, que anteriormente recebia apoio internacional, agora limita a capacidade de manutenção.

O Clamor por Soluções

Guia de turismo há 23 anos, Ana Lavigne expressa a preocupação dos visitantes com o estado das igrejas. “A cidade de Salvador perde muito com isso. Infelizmente, foi preciso acontecer uma tragédia para começarem a fazer alguma coisa”, observa, ressaltando a importância do patrimônio histórico para a identidade da cidade.

Enquanto a comunidade aguarda respostas do Iphan e da Codesal sobre a situação da Igreja de São Miguel e outras igrejas, a urgência por uma ação efetiva se torna ainda mais clara. O futuro dessas construções, que são testemunhas da rica história de Salvador, permanece incerto, mas a necessidade de um olhar mais cuidadoso e proativo para sua preservação se torna cada vez mais premente.