Política e Resenha

ARTIGO – Ainda Estou Aqui”: O Oscar que Escancara as Feridas da Ditadura (Padre Carlos)

 

 

 

No último domingo, 2 de março de 2025, o cinema brasileiro alcançou um marco histórico com a vitória de “Ainda Estou Aqui” na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar. Dirigido por Walter Salles, o filme retrata a luta de Eunice Paiva em busca de respostas sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. Este reconhecimento internacional não apenas celebra a qualidade do cinema nacional, mas também provoca uma profunda reflexão sobre as feridas ainda abertas do nosso passado autoritário.

A narrativa de “Ainda Estou Aqui” expõe as atrocidades cometidas durante o regime militar, período marcado por censura, tortura e desaparecimentos forçados. Ao trazer à tona a história de Eunice Paiva, o filme ilumina a resistência e a busca incansável por justiça diante da opressão estatal. Essa vitória no Oscar ocorre em um momento político significativo, especialmente após os eventos de 2022, quando o país enfrentou uma tentativa de golpe que ameaçou a democracia recentemente reconquistada.

O reconhecimento de “Ainda Estou Aqui” no cenário internacional serve como um lembrete da importância de confrontarmos nosso passado para consolidar os valores democráticos no presente. A impunidade de agentes do Estado que cometeram crimes bárbaros em nome do regime ainda é uma questão não resolvida no Brasil. A falta de responsabilização por essas violações perpetua a injustiça e impede a plena reconciliação nacional.

A obra de Salles não apenas resgata a memória de figuras como Eunice e Rubens Paiva, mas também destaca a necessidade de políticas públicas que promovam a verdade e a justiça. A ausência de uma comissão da verdade efetiva e a resistência em reconhecer os crimes do passado refletem um país que ainda luta para aceitar e aprender com sua história.

Além disso, a vitória de “Ainda Estou Aqui” ressalta o papel da arte como instrumento de transformação social. O cinema, ao abordar temas sensíveis e controversos, tem o poder de provocar debates e estimular a consciência crítica da sociedade. Este Oscar simboliza não apenas um triunfo artístico, mas também uma vitória da memória sobre o esquecimento, da justiça sobre a impunidade.

É essencial que aproveitemos este momento para revisitar nosso passado com honestidade e coragem, reconhecendo os erros cometidos e garantindo que atrocidades semelhantes nunca mais se repitam. Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente democrática, onde os direitos humanos sejam plenamente respeitados e valorizados.

Que “Ainda Estou Aqui” inspire novas gerações a questionar, lembrar e lutar por um Brasil mais justo e igualitário.