Política e Resenha

Como Jerônimo Rodrigues Conquistou a Bahia

 

 

 

 

A decisão do senador Wagner de não concorrer à sucessão na Bahia em 2022 marcou o início de uma reviravolta política sem precedentes no estado. O cenário já se encontrava bastante conturbado, com sérias tensões entre o governador Rui Costa e embates com importantes partidos da base aliada do PT, como PP e PSD.

O PT se via diante de sua campanha mais desafiadora dos últimos 20 anos na Bahia, tendo que enfrentar ACM Neto, membro de uma das mais influentes e tradicionais famílias da política baiana. Inicialmente, Wagner, eleito senador em 2018 com expressiva votação, resistiu a uma nova candidatura ao governo do estado, porém a rápida deterioração da base aliada fez com que reavaliasse sua posição, visando manter a unidade partidária e não fragmentar de vez o campo progressista.

A indefinição sobre a candidatura de Wagner oscilou bastante ao longo de 2021, refletindo as suas dúvidas pessoais e pressões familiares para que não entrasse novamente na disputa. A decisão final do senador, comunicada apenas em janeiro de 2022, coincidiu com o aprofundamento de atritos pontuais com Rui Costa, revelando desgastes na relação entre duas lideranças fundamentais para a hegemonia petista no estado. A inicial desistência anunciada como algo restrito ao PT logo acabou se espalhando para outros partidos da base, gerando intenso burburinho político e especulações sobre possíveis alternativas ao projeto de sucessão desenhado.

A escolha inicial de Otto Alencar como pré-candidato governista foi uma tentativa estratégica de ampliar alianças em âmbito nacional, visando também suavizar questionamentos sobre a hegemonia petista na Bahia, mas essa alternativa logo enfrentou sérios obstáculos com a postulação paralela de João Leão, vice-governador, como nome do PP. As desistências subsequentes de ambos levaram a uma rápida definição de três nomes possíveis para representar o projeto sucessório petista: Luiz Caetano, então secretário estadual; Moema Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas; e Jerônimo Rodrigues, à época completamente desconhecido da maioria absoluta do eleitorado baiano.

A preferência inicial de Wagner era o lançamento da candidatura de Moema Gramacho, que contava com apoio do PT em Lauro de Freitas e boa avaliação de seu mandato à frente da importante cidade da Região Metropolitana de Salvador. Porém, esse nome logo se chocou com resistências intrapartidárias e avaliações desfavoráveis em pesquisas qualitativas. Rui Costa, por sua vez, via em Luiz Caetano a escolha natural para representar o bloco governista, em função de sua longa trajetória como quadro petista e sua atuação à frente de pastas importantes do governo estadual, mas implicações de ordem legal inviabilizaram essa alternativa poucos dias antes do prazo final de inscrição no TSE. Foi nesse contexto de intensas turbulências e contra o relógio que a quarta opção, Jerônimo Rodrigues, então pouco conhecido, emergiu quase como um candidato de consenso, por eliminação de demais alternativas.

Essa surpreendente reviravolta na definição do candidato governista na Bahia culminou no anúncio quase inesperado do nome de Jerônimo Rodrigues, então secretário estadual do Desenvolvimento Rural, como cabeça da chapa petista ao governo baiano. Sua história de origem humilde e homem do interior, aliada à estratégia de campanha em buscar propositalmente o contraste com o perfil de ACM Neto, acabou se revelando bastante acertada. Nos meses seguintes, sob a coordenação dos principais caciques petistas locais, houve intensa articulação política para reunificar a base aliada, superar as turbulências e fortalecer a campanha petista. ACM Neto despontou inicialmente como favorito isolado, mas alguns erros em sua campanha e o forte avanço da candidatura presidencial de Lula na reta final impulsionaram de forma inesperada a candidatura antes pouco conhecida de Jerônimo Rodrigues.

No segundo turno, para surpresa de analistas e observadores políticos, Jerônimo Rodrigues acabou sendo eleito o novo governador da Bahia, encerrando uma longa e conturbada campanha eleitoral marcada por sucessivas reviravoltas e consolidando a hegemonia petista com a conquista do quinto mandato consecutivo à frente do executivo baiano. Esse resultado apertado destaca a importância de decisões estratégicas assertivas em contextos políticos complexos e imprevisíveis, evidenciando mais uma vez a notável habilidade do PT baiano em se adaptar e reagir diante dos mais variados desafios eleitorais, mesmo quando tudo parecia conjurar contra suas chances de vitória.