Política e Resenha

ARTIGO – Quando a oração não tem lado, só tem amor

 

 

(Padre Carlos)

Há momentos em que a fé precisa recordar a si mesma. Quando a poeira da política e das disputas ideológicas começa a assentar sobre o altar da oração, corre-se o risco de esquecer aquilo que é mais sagrado: a presença de um Deus que é um só, que é amor, e que não pertence a partido algum.

Vivemos tempos de divisões profundas. E, infelizmente, essa divisão tem adentrado até os templos, os grupos de oração, os corações dos fiéis. Mas a oração não foi feita para separar. Ao contrário, ela é ponte. É comunhão. É entrega. A oração verdadeira não se curva à polarização. Não faz distinção entre esquerda ou direita, conservador ou progressista. Ela simplesmente dobra os joelhos diante do mistério de um Deus que nos pede compaixão, não julgamento.

Jesus nunca perguntou por quem alguém votava antes de curar, perdoar ou multiplicar os pães. Ele se aproximava dos pobres, dos excluídos, dos esquecidos. E é por esses — por tantos irmãos e irmãs que hoje sofrem com a fome, o abandono e a violência — que nossa oração precisa clamar com mais força. Não por vaidade, não por disputa de narrativas, mas por amor.

A instrumentalização da fé — quando orações são feitas para provar um ponto de vista ou fortalecer um discurso político — esvazia o Evangelho de sua beleza radical. Deus não é bandeira, é luz. E quem se ajoelha de verdade para rezar deve fazê-lo de mãos dadas com o outro, mesmo que pense diferente, porque a oração só é autêntica quando une.

Católicos, evangélicos, cristãos de todas as tradições: precisamos reaprender a orar juntos, com simplicidade, com humildade. Precisamos resgatar o espírito ecumênico do amor, que não conhece fronteiras ideológicas. Precisamos voltar a fazer da oração aquilo que ela sempre foi: um clamor silencioso por paz, por justiça, por fraternidade.

Não é hora de levantar muros, mas de construir pontes. Que nossa fé nos leve para mais perto dos que sofrem — e mais ainda, para mais perto uns dos outros.

Porque, no fim, quando dobramos os joelhos, Deus é um só.