Na manhã desta terça-feira, 9 de abril, o vereador Ivan Cordeiro ocupou a tribuna da Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista e, ao fazê-lo, mais do que prestar contas ou verbalizar cobranças, traçou o esboço de um vereador que tenta fazer da sua voz um instrumento de pressão, e da tribuna, uma trincheira.
O pronunciamento começou com uma saudação protocolar e um justo reconhecimento ao professor Itamar, figura que simboliza o valor da educação e da luta histórica por um município mais desenvolvido. Mas, a partir daí, o discurso de Ivan Cordeiro foi ganhando corpo político – e, por que não dizer, estratégico.
A menção à retomada das obras da estrada do Pradoso ao Bate-Pé foi celebrada com entusiasmo. Trata-se de uma obra esperada há décadas e que representa mais do que um avanço logístico: é a reaproximação do poder público com o interior do município, quase sempre esquecido. O vereador agiu como quem planta presença onde o Estado costuma se ausentar.
Contudo, o pronunciamento foi além da celebração. Ivan Cordeiro assumiu a postura de fiscal ao denunciar a paralisação das obras na estrada da Barra do Choça. É simbólico que o mesmo vereador que comemora o avanço em uma obra, chame atenção para o descaso de outra. E é ainda mais relevante que aponte o dedo não apenas para o governo estadual, mas também para a lentidão histórica do governo federal em soluções concretas para as vias de acesso de Conquista.
Nesse ponto, a proposta de uma audiência pública para debater os entraves no tráfego das entradas e saídas da cidade assume um papel central. Trata-se de uma tentativa de institucionalizar a insatisfação popular e canalizar a cobrança de forma republicana. O destaque dado ao viaduto da saída para Itambé, com valores estimados e menção a engenheiros locais, mostra que há, pelo menos, um esboço de projeto e não apenas discursos inflamados.
Mas há algo ainda mais denso no pronunciamento de Ivan Cordeiro: a constatação de que não dá mais para esperar por Brasília ou Salvador. A lógica da dependência precisa ser substituída por uma política de protagonismo municipal. Ao vincular a aprovação de um novo financiamento do Finiza à construção do viaduto, o vereador propõe um pacto político local, em que a Câmara se compromete com uma obra concreta e necessária.
É uma proposta ousada. É também uma cobrança disfarçada de apelo. Ele convida prefeitos da região, convoca colegas da Casa, e sugere que, se quisermos um novo tempo, devemos criá-lo – mesmo com orçamento apertado e com a morosidade que ronda a máquina pública.
O pronunciamento de Ivan Cordeiro mostra que, ao menos nesse ponto, ele compreende o papel do vereador que vai além da denúncia: ele propõe, pressiona, articula. Não sabemos se o viaduto sairá do papel. Mas é certo que hoje, mais uma vez, a tribuna da Câmara foi ocupada por um vereador que deseja transformá-la em trincheira de mobilização.