Política e Resenha

A Matemática da Injustiça: Os Bilionários Querem que os Pobres Paguem a Conta do Brasil

 

 

 

É com profunda indignação que observamos a Brazil Conference se tornar, mais uma vez, palco para propostas que perpetuam a desigualdade estrutural brasileira. O que presenciamos neste evento, que deveria promover o debate para um país mais justo, foi a disseminação de ideias que atacam frontalmente os princípios humanistas e fomentam a perpetuação da pobreza.

A proposta do financista Armínio Fraga de congelar o salário mínimo por seis anos é simplesmente revoltante. Um dos homens mais ricos do país, ex-presidente do Banco Central durante o governo FHC, sugere com tranquilidade que milhões de brasileiros devem renunciar a qualquer melhoria em suas condições de vida para “ajustar as contas”. A matemática cruel por trás dessa proposta é clara: que os pobres paguem a conta.

O salário mínimo não é apenas um número na economia brasileira – é o instrumento mais eficaz de distribuição de renda que construímos em nossa história recente. Quando o piso salarial aumenta, eleva o poder de compra de milhões de trabalhadores e beneficiários da Previdência, impulsiona o consumo nas camadas populares e aquece a economia real. É um círculo virtuoso comprovado. Congelá-lo significa atacar deliberadamente a base da pirâmide social.

O que mais indigna é a seletividade dessas propostas de sacrifício. Por que nunca vemos, nesses mesmos fóruns de “especialistas”, propostas sérias para taxar grandes fortunas? Por que não se discute limitar os enormes lucros do setor financeiro? Por que a concentração de renda nunca entra na pauta da austeridade?

A Brazil Conference expõe o projeto de país que as elites financeiras defendem: uma economia onde os trabalhadores precisam se contentar com as migalhas, enquanto os privilégios do topo permanecem intocados. É a visão de um Brasil que normaliza a desigualdade e transforma a pobreza em política de Estado.

Não podemos aceitar passivamente. A sociedade brasileira precisa se mobilizar contra essas propostas que atacam os mais vulneráveis. Precisamos exigir um debate econômico honesto, que inclua a taxação progressiva e o combate aos privilégios. A verdadeira responsabilidade fiscal não pode significar abandono social.

É hora de confrontarmos esse discurso que trata trabalhadores como meros números em planilhas de ajuste. O Brasil que queremos construir não pode nascer do congelamento de direitos dos mais pobres, mas sim de um projeto nacional que combine crescimento econômico com justiça social.

A pergunta que deixamos é: até quando permitiremos que a elite econômica determine quem deve fazer sacrifícios em nome do equilíbrio fiscal? Até quando aceitaremos que fóruns como a Brazil Conference promovam ideias que, sob o verniz da técnica econômica, escondem projetos de aprofundamento da desigualdade?

É tempo de resistência e proposição de alternativas. Um Brasil justo não se constrói congelando o salário mínimo – se constrói distribuindo renda, valorizando o trabalho e enfrentando os verdadeiros privilégios que sangram nosso orçamento.

 

Padre Carlos