Política e Resenha

Por Que a Ressurreição Não Foi Anunciada aos Poderosos

 

No mais importante evento da fé cristã, encontramos uma estratégia de comunicação surpreendentemente frágil. O anúncio da ressurreição de Jesus Cristo, pilar fundamental do cristianismo, parece ter sido planejado com pouca preocupação com sua credibilidade imediata ou impacto público.

Os discípulos seguiram Jesus na expectativa de um libertador político que os livraria do domínio romano. Quando ele foi crucificado pelo próprio poder que eles esperavam derrubar, o desapontamento foi tão profundo que muitos voltaram às suas antigas ocupações. O movimento parecia terminado.

É neste contexto que ocorre o mais curioso: o relato da ressurreição é confiado primeiramente às mulheres – justamente aquelas cujo testemunho não tinha valor jurídico na sociedade da época. Do ponto de vista estratégico, se alguém estivesse inventando esta história, dificilmente escolheria mulheres como primeiras testemunhas.

Há uma ineficácia calculada nesta escolha. Deus poderia ter orquestrado uma ressurreição muito mais impactante. Imaginemos Jesus ressuscitado aparecendo diretamente a Pilatos, que o havia condenado; a Herodes, que o ridicularizou; ou aos sumos sacerdotes que manipularam seu julgamento. Uma aparição pública e triunfal teria sido incontestável, forçando o reconhecimento imediato de sua divindade.

Porém, o Deus revelado em Jesus Cristo age de maneira radicalmente diferente da lógica do poder humano. Ele não se impõe, mas se propõe. Não força a aceitação, mas convida ao encontro. A ressurreição não é apresentada como um espetáculo irrefutável, mas como uma verdade que requer um salto de fé.

Esta “ineficácia” do relato da ressurreição nos revela algo profundo sobre a natureza do relacionamento que Deus deseja estabelecer com a humanidade: um relacionamento baseado na liberdade. O respeito pela autonomia humana é tão fundamental que Deus prefere o risco da rejeição à certeza da submissão forçada.

O impacto transformador deste evento “mal comunicado” é surpreendente. Os mesmos discípulos desiludidos e amedrontados tornaram-se anunciadores intrépidos de uma nova compreensão da realidade: nem o sofrimento nem a morte têm a última palavra sobre a existência humana.

A Igreja contemporânea encontra aqui seu maior desafio e sua verdadeira identidade. Não lhe cabe impor-se pelo poder, pela força política ou por argumentos irrefutáveis, mas continuar o testemunho daquelas primeiras testemunhas improváveis. Sua missão é oferecer sentido à vida humana, especialmente onde o desespero, o sofrimento e a morte parecem ter a última palavra.

Quando a Igreja se afasta desta missão fundamental para buscar poder ou relevância pelos meios que o mundo reconhece como “eficazes”, trai sua própria origem. O paradoxo permanece: a aparente fragilidade do anúncio pascal é a fonte de sua autenticidade e poder transformador.

A ressurreição, com seu relato humanamente “ineficaz”, continua a desafiar nossa compreensão do que constitui força e fraqueza, fracasso e sucesso. Talvez seja precisamente nesta ineficácia calculada que encontramos o mais convincente sinal de sua verdade.

Padre Carlos