(Padre Carlos)
A política, quando deixa de servir ao povo, costuma virar uma máquina de silenciar vozes que incomodam. E em Vitória da Conquista, quem vem sendo silenciada há anos é justamente quem deveria ser ouvida com mais atenção: a prefeita Sheila Lemos, eleita democraticamente pela vontade soberana da população, e tratada como uma figura secundária pelo governo estadual.
A primeira reunião oficial entre Sheila e o governador Jerônimo Rodrigues, realizada nesta terça-feira em Salvador, não aconteceu por acaso — foi fruto direto da articulação do ex-deputado federal Ronaldo Carleto. Sua intervenção foi decisiva para que a prefeita e a cidade que representa finalmente fossem reconhecidas no cenário institucional baiano. Um gesto político que rompe o silêncio imposto ao sudoeste da Bahia.
Essa reunião soou menos como um gesto de cooperação e mais como o reconhecimento tardio de uma autoridade legitimamente constituída. Sheila governa a terceira maior cidade da Bahia. E mesmo assim, passou anos ignorada, como se sua voz não tivesse o mesmo peso dos aliados palacianos.
Não foi por falta de tentativa. Foram inúmeros os momentos em que Vitória da Conquista buscou apoio estadual para questões urgentes, sobretudo na área da saúde. O Hospital Esaú Matos, por exemplo, atende não apenas o município, mas dezenas de cidades do entorno e parte do norte de Minas. Mesmo diante dessa realidade, o governo estadual permaneceu inerte, como se a cidade estivesse fora do mapa.
Sheila, em seus dois primeiros anos de mandato, enfrentou não só a dificuldade de governar sem apoio, mas também a indiferença institucional de um governo que parecia não aceitar a vontade popular por não ser conveniente aos seus interesses políticos. Ela foi tratada como uma adversária a ser isolada, e não como uma parceira legítima de gestão.
O que vemos agora — tardiamente — é uma tentativa de reposicionar essa relação. Não por altruísmo político, mas talvez pela clareza de que ignorar Vitória da Conquista não é mais sustentável. Sheila compareceu à reunião com serenidade, acompanhada de sua equipe, com pautas claras, firmes e sempre em nome da cidade. Diferente dos jogos partidários, ela não foi a Salvador para agradar ou ser agradada, mas para defender o que é justo: investimentos, respeito institucional e um olhar digno para as demandas de sua terra.
Se o governador busca reconstruir pontes, será preciso mais do que uma foto ao redor da mesa. Será preciso reconhecer que a prefeita, eleita pela maioria, tem legitimidade para liderar e governar — mesmo sem ter sido a escolha das elites que cercam o poder estadual.
Talvez agora, com o cenário político amadurecendo, a Bahia possa finalmente enxergar que ser oposição não significa ser inimiga, e que a grandeza de um governo se mede também pela capacidade de ouvir quem pensa diferente.
Sheila Lemos, até aqui, tem demonstrado isso com altivez. E Vitória da Conquista agradece — e também deve agradecer à ação política firme de quem, como Ronaldo Carleto, compreende que articulação também é um ato de justiça.