Vitória da Conquista foi palco de um momento simbólico nesta terça-feira (22), que sinaliza um novo tempo para a comunidade surda da cidade e da região Sudoeste da Bahia. Em audiência pública realizada pela Câmara Municipal em celebração ao Dia do Intérprete de Libras, o compromisso com a inclusão e a acessibilidade ganhou protagonismo — não apenas com discursos, mas com ações concretas, reconhecimento institucional e emoção.
O vereador Adinilson Pereira (UB), atuando desde 2012 em prol da causa, foi destaque por sua trajetória de dedicação à defesa dos direitos das pessoas surdas. Ele foi autor da Lei nº 2.230/2018, que tornou obrigatória a presença de intérpretes de Libras em todos os eventos públicos oficiais do município — um marco legal que consolidou Vitória da Conquista como referência no interior da Bahia no tocante à inclusão.
Além disso, Pereira apontou projetos para capacitação de servidores, incentivo à criação de empregos para intérpretes e a proposta inovadora de criação de escolas públicas bilíngues. “Mais do que criar leis, é preciso garantir que elas sejam cumpridas”, declarou, ecoando a urgência de políticas públicas que não fiquem apenas no papel.
Durante a audiência, falas como a da professora Jaqueline França, da Central de Surdos, e do especialista Rayan Soares, emocionaram e conscientizaram. A Central, onde 75% dos atendimentos são realizados por mulheres, atende não só à população local, mas a de cidades vizinhas — uma prova da lacuna regional no atendimento inclusivo.
A emoção atingiu seu ápice com o relato de Rita de Cássia Ribeiro Rocha, que, ao descrever sua luta para pagar intérpretes durante a faculdade, expôs a dura realidade ainda enfrentada por milhares de surdos no país: a marginalização silenciosa. Sua pergunta ecoou no plenário: “Como será o futuro?”. Uma provocação legítima para uma sociedade que ainda não garante plenamente o básico.
O evento teve também a participação de autoridades religiosas, gestores de cultura e educação, além da entrega simbólica de uma Moção de Louvor ao IFBA, pela criação do curso de Letras Libras no campus de Itapetinga — uma ação concreta que mostra que transformação começa com investimento em formação.
A presença dos vereadores Siul Lima, de Itambé, e Paulinho Oliveira, de Conquista, ampliou a dimensão do encontro, mostrando que a luta pela acessibilidade está transbordando os limites da cidade. A ideia de que “a acessibilidade não é um favor, é um direito” foi o fio condutor de todas as falas.
No fundo, o que se viu na Câmara Municipal foi mais do que uma celebração. Foi um grito coletivo — simbólico, visual, corporal — de quem se recusa a continuar à margem. O Brasil ainda engatinha quando se trata de acessibilidade real. Mas Vitória da Conquista mostrou que é possível dar passos largos rumo à inclusão, desde que haja vontade política, mobilização social e valorização daqueles que “fazem a ponte” entre mundos.