(Padre Carlos)
O escritor e religioso dominicano Frei Betto declarou, em entrevista ao portal PlatôBR, que o próximo conclave no Vaticano dificilmente elegerá um papa de perfil conservador. Para ele, optar por um modelo semelhante ao de João Paulo II ou Bento XVI significaria aprofundar o esvaziamento da Igreja Católica, promovendo um retrocesso.
Alinhado à ala progressista, Frei Betto avalia que a hierarquia eclesiástica buscará um sucessor de Francisco que mantenha o diálogo aberto com a sociedade contemporânea. Ainda que o novo papa não seja obrigatoriamente da mesma linha de Francisco, deverá ser, segundo Betto, alguém “poliglota, simpático e bom diplomata”.
Essas qualidades, observa o dominicano, são mais raras entre os conservadores. “Eles vão ter que escolher alguém palatável para o mundo de hoje. Senão, a Igreja corre o risco de falar sozinha”, alertou. Betto lembra ainda que, embora Francisco tenha nomeado 80% dos cardeais eleitores, isso não garante uma maioria progressista, pois o papa sempre respeitou o consenso dos bispos locais em suas escolhas.
Frei Betto prevê um conclave mais demorado do que os que elegeram Bento XVI e Francisco, que duraram menos de 48 horas. Para ele, o próximo processo poderá se estender por quatro ou cinco dias. A escolha deverá recair sobre um candidato que não seja nem muito jovem, para evitar longos pontificados, nem tão idoso que venha a falecer precocemente.
Entre os nomes cotados, Frei Betto destaca Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana. Também cita o cardeal inglês Timothy Radcliffe e, como representante africano, o cardeal Peter Turkson, de Gana, cuja visão mais aberta o diferencia dos demais cardeais africanos, geralmente mais conservadores.
Reconhecido por seu engajamento na Teologia da Libertação, Frei Betto, nascido Carlos Alberto Libânio Christo, é uma referência intelectual no catolicismo latino-americano, com vasta trajetória em defesa dos direitos humanos e da justiça social.