(Padre Carlos)
A política brasileira tem seus vícios antigos, é verdade. Mas há novidades que nem os cronistas mais cínicos do passado poderiam prever. Entre elas, a conversão da pesquisa eleitoral em instrumento de ficção política. O caso Bolsonaro é exemplar.
Jair Bolsonaro está inelegível até 2030. Não é questão de opinião. É fato jurídico. Decisão tomada pela Justiça Eleitoral, corroborada em todas as instâncias necessárias. O recurso no STF? Estacionado. Encostado. Morto. Como reconhecem, nos bastidores, os próprios ministros da Corte.
Então por que diabos seguimos vendo institutos de pesquisa — Quaest, Datafolha e afins — testando o nome de um inelegível como se fosse opção real para 2026? Por estupidez? Não. Por cálculo.
Manter Bolsonaro na dança das cadeiras serve a muitos interesses. Primeiro, os da velha imprensa, faminta por cliques, manchetes fáceis e narrativas binárias. Segundo, dos políticos — do governo e da oposição — que preferem a velha luta do bem contra o mal à árdua tarefa de apresentar projetos concretos.
É um escárnio. Não se trata apenas de erro técnico — embora o seja também, para qualquer manual sério de metodologia de pesquisa. Trata-se da escolha deliberada de alimentar a ilusão de que o país ainda está preso ao passado recente, incapaz de abrir espaço para o novo.
Resultado? A polarização — estéril, burra e destrutiva — segue firme e forte. A discussão sobre os verdadeiros problemas do país continua interditada. A elite política, satisfeita. O povo, como sempre, deixado para depois.
A Justiça não manda incluir inelegível em pesquisa. A lógica tampouco recomenda. A decência muito menos. Mas quem se importa?
A indignação é justa. Mas ela precisa se traduzir em vigilância ativa. Exigir rigor metodológico. Cobrar ética da mídia. Desmascarar o uso oportunista da mentira travestida de estatística.
Democracia exige realidade, não ficção. Exige coragem, não truques.
Querem Bolsonaro em 2026? Boa sorte com a Constituição.
Aqui, preferimos a verdade. Ponto final.