Vitória da Conquista, importante polo do sudoeste baiano, enfrenta há décadas um desafio que se repete com previsibilidade angustiante: as enchentes e alagamentos durante o período chuvoso. Apesar dos esforços notáveis da atual gestão municipal, torna-se cada vez mais evidente que estamos diante de um problema estrutural, cuja solução exige uma articulação que transcende as possibilidades e recursos de qualquer prefeitura, por mais comprometida que seja.
É preciso reconhecer o trabalho incansável da prefeita, que tem se desdobrado para minimizar os impactos das chuvas intensas. Sua administração tem respondido com prontidão às emergências, prestando assistência às famílias afetadas, realizando limpeza de bueiros e promovendo intervenções pontuais na infraestrutura urbana. Estas ações, ainda que fundamentais, representam medidas paliativas diante da magnitude do problema que enfrentamos.
A realidade é que décadas de crescimento urbano acelerado e sem o devido planejamento deixaram um passivo de infraestrutura que nenhuma gestão conseguiria resolver em um único mandato. A ausência histórica de um sistema adequado de macrodrenagem não é responsabilidade exclusiva da atual administração, mas o reflexo de um modelo de desenvolvimento urbano que priorizou a expansão sem os investimentos correspondentes em infraestrutura básica.
Neste contexto, a iniciativa do vereador Ivan Cordeiro de propor uma audiência pública para debater a implementação de um sistema de macrodrenagem eficiente e sustentável representa uma oportunidade valiosa. Este espaço democrático permitirá identificar caminhos para uma solução definitiva, reunindo diferentes atores sociais, incluindo representantes da prefeitura, órgãos estaduais, universidades, entidades profissionais e a comunidade.
O desafio que temos pela frente requer não apenas recursos municipais, mas uma verdadeira força-tarefa que envolva os governos estadual e federal. Projetos de macrodrenagem são extremamente custosos e tecnicamente complexos. Cidades do porte de Vitória da Conquista não dispõem de autonomia financeira para executá-los sem apoio de outras esferas governamentais.
A elaboração de um Plano Municipal de Drenagem Urbana integrado ao planejamento urbano, conforme proposto, é o primeiro passo fundamental. Este instrumento permitirá diagnosticar precisamente os problemas, estabelecer prioridades e dimensionar os investimentos necessários. Com este planejamento em mãos, a gestão municipal terá melhores condições de pleitear recursos junto a programas federais e organismos de financiamento.
É importante que a audiência pública não se transforme em palco de embates político-partidários, mas em espaço de construção coletiva. Os problemas de drenagem urbana atravessam gestões e só serão resolvidos com continuidade administrativa e compromisso de longo prazo.
Empresas estaduais como Embasa e Conder, mencionadas na proposta, podem e devem desempenhar papel crucial nesta missão. A Embasa, por exemplo, tem responsabilidade direta na gestão dos recursos hídricos que impactam o sistema de drenagem. Já a Conder poderia contribuir com sua expertise em planejamento urbano e execução de grandes projetos de infraestrutura.
Nós, cidadãos conquistenses, precisamos estar conscientes de que a solução definitiva não virá da noite para o dia. Será necessário um trabalho contínuo, atravessando mandatos e exigindo persistência. Nossa participação ativa e vigilante será fundamental para garantir que os esforços iniciados não se percam nas transições de governo.
A audiência pública proposta representa um marco importante nesta jornada, sinalizando o reconhecimento da dimensão do problema e a disposição para enfrentá-lo de forma técnica e participativa. É o momento de unirmos forças – sociedade civil, setor produtivo e diferentes esferas de governo – em torno de um objetivo comum: uma Vitória da Conquista onde as chuvas sejam motivo de celebração pela renovação da vida, não de temor pelos transtornos e perdas que possam causar.
O caminho é longo, mas com planejamento adequado, investimentos proporcionais ao desafio e uma gestão compromissada como a que temos visto, poderemos gradualmente transformar esta realidade. O futuro de nossa cidade depende desta capacidade de superar diferenças políticas momentâneas em favor de soluções estruturais que beneficiarão gerações.