O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, resolveu brincar de incendiário verbal. Sugeriu, segundo repercutido por toda a imprensa, levar Jair Bolsonaro e seus seguidores “para a vala”. A frase, de péssimo gosto, é o tipo de coisa que poderia ter saído da boca de seus adversários no cercadinho de Brasília — e não da autoridade máxima de um dos estados mais importantes da federação.
Ivan Cordeiro, presidente da Câmara de Vitória da Conquista e vereador pelo PL, reagiu com a altivez que o momento exige. E acertou. Porque em tempos em que o debate político parece uma arena de gladiadores cegos, lembrar que a civilidade é uma virtude democrática torna-se um ato de coragem.
Não se trata aqui de defender Bolsonaro — que tem muito a responder à Justiça, à História e, por que não, à própria consciência. Mas sim de apontar que o discurso da vala, ainda que metafórico (espera-se), fere a lógica republicana. É um vocabulário que aproxima Jerônimo não dos grandes democratas, mas dos pequenos tiranos, dos “justiceiros de palanque”, desses que confundem adversário com inimigo e oposição com inimigos da pátria.
A fala do vereador Ivan Cordeiro expõe um ponto essencial: a democracia só respira em ambientes onde o respeito mútuo ainda é o idioma possível. Sem isso, resta a gritaria, o ressentimento, a revanche — ou pior, o flerte com o autoritarismo em nome de uma suposta justiça histórica.
E aqui vale um lembrete: quem governa não pode ser apenas expressão de uma parte. Deve ser ponte entre contrários. Jerônimo, ao contrário do que sua fala sugere, precisa lembrar que governa para petistas, bolsonaristas, indecisos, críticos e até indiferentes. Não há poder legítimo sem inclusão simbólica. O governador, portanto, tem o dever de se afastar do populismo belicoso. Já temos populistas demais.
É evidente que a política brasileira precisa de firmeza, mas não de fúria. De assertividade, mas não de agressões. E de moderação, essa virtude cada vez mais rara, mas absolutamente indispensável. A fala de Ivan Cordeiro talvez não ganhe os holofotes nacionais — mas deveria. Porque ela nos lembra que ainda há espaço para a razão em meio ao ruído.
Sim, as instituições estão em constante teste. E o teste de Jerônimo Rodrigues, neste episódio, ele não passou. A fala da vala o coloca ao lado errado da história — ainda que de forma passageira. Tomara que perceba isso.
Porque uma democracia não cava valas. Ela constrói pontes.