É com profunda indignação cívica que escrevo este artigo após presenciar o lamentável espetáculo que foi a audiência pública em Vitória da Conquista. Como cidadãos baianos, estamos à deriva em um mar de promessas vazias, representação política insuficiente e infraestrutura abandonada, enquanto assistimos estados vizinhos, como Pernambuco, receberem tratamento privilegiado na distribuição de recursos e atenção política.
O caso da ViaBahia é emblemático dessa triste realidade. Em 2020, o então Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, visitou nosso estado e apontou que a concessionária havia executado apenas 30% das obras previstas, deixando de realizar 441 km de duplicação, apesar de ter arrecadado impressionantes 90% dos recursos previstos no plano de negócio. Uma situação absolutamente inaceitável!
Mas onde estavam nossos representantes quando essa batalha precisava ser travada? Que pressão efetiva o então governador Rui Costa exerceu para resolver essa situação escandalosa? Quais deputados baianos ergueram suas vozes junto ao Ministério para exigir o fim de uma concessão que claramente não cumpria seu papel? O silêncio ensurdecedor que se seguiu diz muito sobre o abismo de representatividade que enfrentamos.
Em contraste gritante, observemos Petrolina, em Pernambuco. A cidade recebeu três duplicações de BRs em trechos urbanos, viabilizadas pelo empenho direto de seus parlamentares. O deputado Fernando Bezerra Filho não apenas conseguiu R$ 109 milhões para obras – com o DNIT complementando apenas R$ 24 milhões – como ainda demonstra o zelo de trabalhar para que uma delas seja entregue no aniversário da cidade. Isso é representação política de verdade!
Mais absurdo ainda é constatar que a duplicação da ponte de Juazeiro, município baiano, só está ocorrendo graças à pressão dos parlamentares de Petrolina! A metade pernambucana da ponte já está duplicada há 15 anos, enquanto a parte baiana permaneceu esquecida até que os pernambucanos se movimentassem – não por amor à Bahia, mas porque a situação prejudicava seus próprios cidadãos.
E quando o ministro Tarcísio esteve na Bahia tentando suspender o contrato com a ViaBahia, não encontrou apoio significativo entre nossas lideranças. Agora, esses mesmos políticos “cantam de galo” por terem cancelado o contrato, após acordarem uma indenização bilionária sem disputa judicial que onera ainda mais os cofres públicos. É revoltante!
A audiência pública em Vitória da Conquista foi o ápice dessa vergonha. Empresários comprometidos com o desenvolvimento regional, como Zé Maria Caires, foram marginalizados, convidados a falar apenas no final, quando o público já havia se dispersado. Esta atitude demonstra o desprezo pelos verdadeiros interessados no progresso da região.
Não podemos continuar aceitando essa disparidade regional e essa apatia política como normais. A Bahia, com sua história, cultura e importância econômica, merece representantes que lutem verdadeiramente por seus interesses, que fiscalizem contratos, que cobrem resultados e que não se intimidem diante do poder econômico.
Precisamos urgentemente de uma renovação na representação política baiana. Não representantes que aparecem apenas em períodos eleitorais, mas lideranças comprometidas com resultados concretos, como vemos em estados vizinhos. Precisamos de parlamentares que entendam que sua função é defender os interesses de seus eleitores, não apenas ocupar cadeiras em Brasília ou Salvador.
Este não é um chamado à divisão regional, mas sim à igualdade de tratamento. É inadmissível que, em um país tão desigual como o Brasil, vejamos disparidades tão gritantes no tratamento de estados da mesma região. Se Pernambuco consegue obter recursos e realizar obras, por que a Bahia não pode?
A audiência pública deveria ter sido um espaço de diálogo e construção coletiva, mas tornou-se mais um símbolo do abismo de representatividade que enfrentamos. Contudo, nossa indignação não pode se limitar à crítica – ela deve se transformar em ação cidadã, em cobrança constante, em participação ativa nos espaços de decisão.
Não desistiremos da Bahia. Nosso estado merece infraestrutura de qualidade, representação política comprometida e desenvolvimento regional equilibrado. A transformação começa pelo despertar da consciência cívica e pela exigência coletiva de nossos direitos. A Bahia não é menor que nenhum outro estado e não aceitaremos mais ser tratados como cidadãos de segunda classe.
É hora de transformar essa indignação em movimento, essa frustração em organização e essa desilusão em propósito. O futuro da Bahia depende da nossa capacidade de exigir respeito, comprometimento e resultados de quem elegemos para nos representar. Esta não é apenas uma batalha por obras ou recursos, mas por dignidade política e cidadã.
Lara Fernandes
Vereadora de Vitória da Conquista, Bahia