Política e Resenha

Poema da despedida – Mia Couto

Não saberei nunca dizer adeus

Afinal, só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo, só nós não podemos ser

Talvez o amor, neste tempo,

seja ainda cedo

Não é este sossego que eu queria,

este exílio de tudo, esta solidão de todos

Agora não resta de mim

o que seja meu

e quando tento

o magro invento de um sonho

todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra alcança o mundo, eu sei

Ainda assim, escrevo.

 

Fonte: “Raiz de orvalho e outros poemas”, 1983 (Maputo, Moçambique).