Na complexa tapeçaria da diversidade cultural do Brasil, as comunidades quilombolas emergem como tesouros históricos, portadores de uma riqueza ancestral que contribui para a construção da identidade nacional. Contudo, a lamentável ignorância de alguns gestores municipais sobre a existência dessas comunidades ressalta lacunas preocupantes na compreensão da nossa própria história. A pesquisa conduzida pelo professor Eduardo Santana, da Uneb, expõe a distância entre a realidade quilombola e a consciência educacional local, particularmente na Bahia, estado que abriga a maior população quilombola do país.
O papel formativo dos quilombos na história do Brasil transcende o mero aspecto geográfico. O professor Santana, com sua experiência como ex-diretor do bloco afro Malê Debalê e conselheiro municipal de educação em Salvador, destaca a necessidade urgente de um diálogo efetivo entre as escolas e os conhecimentos da educação quilombola. Em suas palavras, “o quilombo é um espaço de construção de conhecimento”, onde métodos e estruturas de ensino baseados na ancestralidade promovem valores como a escuta aos mais velhos, o respeito à natureza, a religiosidade e a oralidade.
Surpreendentemente, muitos professores nas escolas que atendem alunos quilombolas desconhecem a origem quilombola de seus estudantes. Essa desconexão entre educadores e a realidade de seus alunos evidencia a urgência de integrar os saberes quilombolas no currículo escolar. A falta de compreensão sobre a importância desses elementos na formação educacional não apenas perpetua estigmas, mas também negligencia a riqueza cultural que pode enriquecer o ambiente educacional.
A Bahia, de acordo com o Censo, abriga 29,9% da população quilombola autodeclarada do país, totalizando 397.059 pessoas. A história dos quilombos na Bahia reflete uma presença africana intensa e historicamente significativa, contribuindo para a formação do território do estado. Salvador, a capital baiana, se destaca como a segunda cidade mais quilombola do Brasil, demonstrando a ampla presença quilombola que permeia o estado.
O desafio educacional nas comunidades quilombolas vai além da conscientização sobre a existência dessas comunidades. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda não lançou as informações de escolaridade da população quilombola, mas é crucial que os gestores municipais estejam atentos a esses dados quando disponíveis. A compreensão das necessidades educacionais específicas dessas comunidades é essencial para garantir uma abordagem pedagógica inclusiva e respeitosa.
Diante desse cenário, é imperativo que os gestores municipais assumam a responsabilidade de promover um diálogo efetivo entre as escolas e as comunidades quilombolas. Isso implica não apenas reconhecer a existência dessas comunidades, mas também integrar os saberes quilombolas no sistema educacional, respeitando e valorizando a diversidade cultural que molda a identidade brasileira. O futuro da educação está intrinsecamente ligado à nossa capacidade de reconhecer, respeitar e celebrar as diferentes histórias que compõem o rico mosaico cultural do Brasil.