Política e Resenha

Desigualdades Globais e o Desafio de um Mundo Sem Pobreza

Em um mundo marcado por contrastes gritantes, onde a riqueza coexiste com a miséria, a recente divulgação do relatório do Banco Mundial oferece uma visão sombria do estado atual da luta contra a pobreza global. Em torno de 700 milhões de pessoas vivem com menos de US$ 2,15 (R$ 10,50) por dia, revelando não apenas a persistência, mas o agravamento da extrema pobreza em níveis alarmantes.

 

O ano de 2022, segundo o Banco Mundial, foi um período de incertezas, com o combate à pobreza regredindo três anos devido aos impactos devastadores da pandemia de Covid-19. O paradoxo se destaca quando consideramos que, mesmo após décadas de esforços, o número de pessoas vivendo em condições de miséria extrema é maior do que em 2010, sinalizando uma falha nas estratégias adotadas.

 

O diagnóstico ganha relevância ao ser proferido por uma instituição que, historicamente, abraça o capitalismo como a via mestra para o crescimento econômico e a redução das desigualdades. O Banco Mundial, que recentemente redefiniu seu propósito visando um mundo sem pobreza em um ambiente ecologicamente saudável, enfrenta agora o desafio de reconciliar suas aspirações com a realidade crua e desoladora apresentada pelo relatório.

 

A constatação de que o combate à pobreza estagnou mesmo nas faixas de renda menos precárias, próximas à chamada classe média baixa, é um alerta de que as estratégias atuais não estão atingindo efetivamente os estratos mais vulneráveis da sociedade. Países de baixa renda média, como México, África do Sul e Brasil (sem citação nominal no relatório), destacam-se como exceções, mostrando que algumas políticas pós-Covid foram eficazes em reduzir a pobreza.

 

Entretanto, um dos desdobramentos críticos dessa equação é a explosão da dívida externa nos países mais pobres. A elevação de US$ 453,5 bilhões (R$ 2,2 trilhões) devido aos juros altos durante a crise da Covid representa um fardo financeiro insustentável, prejudicando investimentos em setores cruciais como saúde, educação e programas ambientais.

 

Além disso, o relatório se aventura por terrenos sensíveis, explorando os desafios econômicos globais, incluindo a desastrosa invasão russa na Ucrânia. Esse evento, entre outros fatores, contribuiu para um cenário de crescimento econômico insuficiente, alta inflação e taxas de juros crescentes.

 

Contudo, o relatório não se limita a questões econômicas, estendendo-se para dois temas cruciais: mudanças climáticas e igualdade de gênero. As previsões pessimistas sobre o aumento da emissão de gases de efeito estufa e a consequente migração forçada de 216 milhões de pessoas até 2050 indicam uma urgência global na adoção de medidas efetivas para conter o aquecimento do planeta.

 

No tocante à igualdade de gênero, o Banco Mundial destaca a persistência de disparidades, evidenciadas por um índice de desigualdade que mostra um avanço tímido para as mulheres entre 2022 e 2023. A realidade de que 2,4 bilhões de mulheres têm menos direitos no mercado de trabalho é uma afronta à noção fundamental de igualdade.

Diante desse panorama, é imperativo que a comunidade internacional reavalie suas prioridades e estratégias. O desafio de construir um mundo sem pobreza e com igualdade de oportunidades não pode ser encarado apenas como uma aspiração distante, mas como um compromisso urgente e inadiável. Ações coordenadas, políticas inclusivas e um esforço global são indispensáveis para transformar as tristes estatísticas do presente em um futuro mais justo e equitativo.